sábado, 31 de dezembro de 2011

love burst

Há tanto amor dentro de mim que sinto que a qualquer momento vou explodir em cores e pintar todas as paredes do meu quarto. Dos azules turquesas dos mares caribenhos. Dos laranjas das noites de luxúria. Dos verdes e cinzas daquele lugar que aprendi a chamar de casa. Do amarelo do sol nos sorrisos de Amalia. Do branco daquela Dallas que mudou minha vida...

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

dentro da casa de madeira I

Ele andava de pés descalços, cabelos presos. Um leve sorriso lhe aparecia no rosto entre uma frase e outra. Estava sem camisa e era todo um Adônis que cozinhava para mim. Eu me apoiava no balcão e lhe observava os movimentos. Sua leveza e sua beleza eram tamanhos que fui obrigada a rimar.

Não consigo me lembrar quanto tempo durou este olhá-lo cortar cebola, temperar molho, contar-me histórias. Só me lembro de pensar que o tom de sua voz me adentrava os ouvidos como um veludo, fazendo-me carinho e cócegas sem que ele me precisasse tocar.

sábado, 24 de dezembro de 2011

california love.

It pains me to think about how far we are from each other, about the miles between mine and your closet. Not so long ago I'd just craw into your bed when the night was too cold. I'd sometimes wake you up and tell you about an adventure that I had been through just now, or listen to one of your unbelievable journeys that made me want to live your life. I use to think I had found the best storyteller in the history of storytelling! We'd cuddle until we fell asleep and then I'd go back to my bed. I got to meet the only person that shares with me this feeling, this loving to fall asleep together and at the same time not being that into spending the whole night with another person. And so we went for countless nights that I wish I will never forget. I want to remember the scent of your pillow and the temperature of your skin against mine. I want to always be able to go back to seeing myself in your hypnotic eyes... and trying to make you laugh because the wrinkles around them when you do are just too cute.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

L2 Sul/Rodoviária

- Você tava certo.
- Sobre o que?

Sobre o meu querer a ti ser mais intenso que o teu querer a mim.

- Sobre a chuva.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

H. E.

Toda mulher já foi uma garota de treze anos. Para umas mais que outras - como quem vos escreve - foi este um ano marcado pela perversidade da ação da adolescência no quesito beleza física.
Ao atingir o ápice da feiura, surgiu certo interesse de minha parte por alguém. E este alguém não tinha muito em comum comigo, nem tinha nada muito interessante a dizer. Mas era um ser humano bonito, de pele clara e olhos muito muito negros. Uma voz grave que me fazia querer ir pro ensaio da banda* toda manhã.
Nunca lhe contei sobre minha vontade dele. Tampouco contei a nenhuma de minhas amigas - o que levou a melhor delas a ter um affair com o dito cujo que durou não mais do que tempo suficiente para me ferir pouquinho.
Sete anos e muitos amores depois, ganhei ingressos para o cinema. Apesar de amar a sétima arte, não me anima muito assistir o tipo de filme que chega às salas ultimamente. Ah, que bons eram os tempos de Cine Academia..!
Le merde foi estar atrasada. Saí do banho correndo, pingando pela casa inteira, coloquei a primeira roupa que encontrei, o sapato que estava mais perto da porta e me joguei dentro do carro que me esperava há algum tempo debaixo do bloco. Assisti ao filme hollywoodiano incapaz de causar-me um só suspiro que fosse maldizendo o bendito ser humano que me presenteou com o ingresso.
Ao terminar a sessão, já com as luzes acessas, procurei saber quem era o digníssimo que havia performado sons de beijos intensos ao meu lado durante os 118 minutos. Ele. O próprio.
Me pareceu engraçadíssimo que o universo o tivesse colocado ao meu lado no maldito dia em que não deu tempo de escovar os dentes depois de comer Ruffles de cebola e salsa. Que meu cabelo secou encostado à cadeira e ficou aplastado à minha cabeça como um capacete. Que o vestido, o sapato, a bolsa e o casaco tinham cores de gamas completamente distintas. Não teria nem porquê abrir a boca para me gabar de tudo que sempre me gabo quando tento impressionar alguém. Não valeria a pena. Eu tinha treze anos outra vez.
Vi-o ir embora com seus braços enlaçados na cintura de uma menina absolutamente normal, que tinha tido tempo de passar chapinha e base antes de sair de casa.
I was halfway through a bottle of Ricci Ricci when we broke up and now I have to find a new favourite perfume to love.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

de sentir e dessentir.

Essa cura tão imediata dele me faz questionar a existência do amor para sempre. (Não se preocupe, meu bem, que me passam outros pela cabeça quando penso em amor. Não se preocupe que nunca pensei em te ter comigo por tempo sequer próximo a para sempre. Não se preocupe comigo, com nada.) Só que este fim, que me pareceu difícil a princípio, está dissolvendo-se em passado numa velocidade que me é familiar.
Eu sinto e sinto muito, com muita intensidade. E quando acaba, eu morro de amor. E o morrer de amor dura tão pouco que...

Sei lá.

Tô me perguntando agora sobre sofrer quando as pessoas saem de nossas vidas.
Porque o dia hoje foi nublado e eu quase não saí do quarto e ainda assim, estou feliz como há muito não me sentia.
Porque já amei e desamei tanto e continuo aqui.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

04:16 am

Os gritos ecoavam do terceiro andar por todo o prédio. Começou com grunhidos quase inaudíveis, abafados pelo cair da chuva na janela, que num crescendo quase musical culminaram num "e eu te amo pra caralho, porra".
Creio que nos despertamos na mesma hora, mas nenhuma das duas se atreveu a falar. Ainda assim, ainda que no breu e no silêncio, pude senti-la acordada. Conhecia bem sua respiração alterada de quem se punha nervosa com demonstração excessiva de hostilidade. Quando eram nossos os gritos, a respiração vinha acompanhada de soluços incessantes e toda uma tormenta de ressentimentos que retirávamos de abismos dentro de nós para ferir a outra.
Os gritos se fizeram mais altos, como se a porta tivesse sido aberta. Agora nos olhávamos nos olhos. Ainda sem proferir uma palavra que fosse, ainda deitadas nas extremidades da cama, ainda com milhares de quilômetros separando-nos naquela enorme cama de lençóis tão alvos. Via o brilho trêmulo de seus olhos, que não demorariam para desfazer-se em lágrimas e sujariam com sua maquiagem não retirada a fronha branca de seu travesseiro.
Lá fora, eles desciam as escadas. Juras de amor perdiam-se em meio a praguejamentos - ou vice-versa, não sei ao certo. Sei que haviam silêncios que não poderiam ser preenchidos por nada além de beijos dos mais intensos. Era assim que preenchíamos os nosso silêncios quando nos aproximávamos do fim. Era assim que lutávamos desesperadamente para apagar de vez o fogo que destruía sem dó as flores que nasceram em nossos tempos de primavera.
Percebi que as vozes estavam tão próximas que eles poderiam muito bem estar sentados no sofá de veludo vermelho, testemunha de nosso fazer e desfazer amor. Agora nossas mãos se buscavam entre os lençóis, como se procurando por um abrigo, algo onde pudéssemos segurar enquanto aquele furacão invadia nosso sono, nossa relação,nós.
Os gritos seguiram, descendo as escadas e lançando-se à rua, onde chovia ainda mais forte. Le Curiosism foi o que nos fez levantar e olhá-los desde a janela. Corriam de um lado a outro, trocavam farpas e beijos. E beijos. E beijos. Foi olhando-os daquela janela que ficou mais do que claro que era hora de colocarmo-nos em malas e encaixotar as lembranças em comum. Já não fazia mais sentido viver caminhando no campo minado que nossa casa se havia tornado, esperando pacientemente pela próxima vez que algo ativaria uma explosão de mágoas. De mãos dadas, na madrugada de uma terça de maio, nos separamos de forma indolor.
Já faz algum tempo desde este fim. Não sei por onde ela anda, não sei como ela está.
Ouvi dizer que os vizinhos do terceiro andar de vez em quando ainda dão seus espetáculos... mas somente em noites de chuva.

sábado, 17 de dezembro de 2011

faz ainda mais sentido agora

"Certamente você tem medo demais, Doutor Campbell, pra realmente sentir as coisas lá bem dentro de você (...) E esse certamente é o único modo que eu posso entender, Doutor Campbell, aquilo que você pode querer dizer com o que que é que você tá sempre dizendo pra mim. Interesse por você? É claro que eu me interesso por você... muito menos do que você pensa e muito mais do que você pode imaginar"

Melanctha

sábado, 10 de dezembro de 2011

Me desculpe se o que tinha a oferecer não era aquele amor insosso no Leblon de Manoel Carlos. No entanto, era um algo tão mais gostoso de viver, amor, tão mais pulsante. Um tu e eu inédito. Qual o mal de ter nosso horário nobre entre as duas e as cinco da manhã?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

sete dias

Agora que não durmo mais contigo, ando dormindo com Caetano. Nosso romance começou bem naquela quarta-feira quando eu lhe disse adeus e você não me pediu que ficasse. Começou depois que você fez questão de causar toda uma tormenta em minha cabeça. Lembro que eu pegava minha bolsa e meu casaco nos ganchinhos da parede daquela sala na qual não saberei mais entrar, porque para sempre carregará o peso de ser o último lugar onde eu estava contigo e você estava comigo e éramos os dois um do outro. E foi lá que ele me ganhou, desacelerando meu coração com seu cantar.
A verdade é que não me recordo qual era a canção que tocava no momento... sei que era daquela fita cassete que dava pau toda hora e nos fazia interromper a conversa de tempo em tempo para clicar no auto-reverse; por isso tenho certeza que é uma das antigas. É possível que seja O Quereres... mas devo admitir que talvez pense nesta porque ela expressa a intensidade do querer que me causava estar contigo. De qualquer maneira, foi assim mesmo que aconteceu: tocava Caetano, eu lhe disse adeus e você não pediu que eu ficasse. Desde então, You Don't Know Me virou minha canção de ninar e meu último pensamento antes de cair nos braços de Morfeu é "laia ladaia sabadana Ave Maria" logo depois de pensar que é fato que não tomaste tempo para me conhecer, nem eu a ti. E assim durmo um sono agitado para acordar com uma puta vontade de "botar fogo neste apartamento"! Se eu te dissesse, tu não acreditarias... e se acreditasses, irias bem para longe de tanto medo - como, de fato, o fez. Aliás, acho que foi bem culpa deste teu não entender nada que te afastou de mim. Te faltou compreender que eu queria te levar comigo quando fosse ir-me embora, dar o fora...
Provavelmente nunca passará pela tua mente o que desencadeou a escritura deste desabafo. É bem capaz de que nunca chegues perto deste texto nesta vida. Porém creio importante, para que conste nos autos, como foi que me surgiram estes devaneios tropicalistas na cabeça. O que começou a tocar agora mesmo, durante minha tentativa de colocar ordem no universo começando pelo meu quarto, foi Zii e Zie. Me peguei segurando o telefone durante muito tempo, olhando para o nada, sem sequer notar que os raios de sol que passavam pelas frestas da cortina me queimavam o braço. E foi necessário ser bombardeada pelos verbos no pretérito perfeito de Perdeu para me dar conta de que foi neste mesmo pretérito que ficou o nós. Ficou antes de eu lhe dizer adeus e você não pedir pra eu ficar. Por isso nem te liguei. Por isso você nem me ligou. E "o sol se pôs, depois nasceu e nada aconteceu".

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

no portão.

Aceleração elevada das batidas do coração. Sudorese.
Espaços não preenchidos entre os dedos das mãos.
Obstrução da garganta por corpo imaterial.
Aumento da produção de fluido lacrimal diante de canções específicas.

Sobretudo, um enorme vazio no peito.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Insônia.

Toda vez que fecho os olhos, milhões de memórias invadem de maneira tão intensa que me dói. Os abraços queimam, os beijos são espetadas, as conversas de uma noite toda são sessões de tortura chinesa com gotas d'água. De tão reais, essas lembranças machucam.

Abro os olhos e não há nada além de breu.

Quente demais para me cobrir, frio demais para dormir sem cobertor.

Não consigo dormir.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

súbito e platônico.

Me imaginei batendo em sua porta na tarde de um dia qualquer da semana. O sol teria saído, tímido como é em céu portenho. Ainda assim, ele teria decidido testemunhar minha odisseia amorosa nas ruas de Buenos Aires.
Lhe tocaria a campainha e esperaria impaciente, quase arrancando minhas cutículas com as unhas. Levaria um pouco de tempo até que ele chegasse e abrisse sem nem perguntar quem era, crente que é na bondade do mundo. Sorriria para mim, dizendo "Buenas tardes" com seu belíssimo sotaque argentino.
Eu usaria cinco segundos para calar e apenas vê-lo. Descobrir os caminhos que as rugas formam em volta de seus olhos, os redemoinhos em seu cabelo, as imperfeições em sua pele. Só então seria capaz de dizer o que me havia levado até ali:

"Nunca, nunca he conocido a alguien que ve la vida de manera tan increíblemente bella como vos. Me haces querer levantar y ser feliz todos los días. Sos el amor de mi vida."

Tomaria suas mãos nas minhas, olharia bem fundo em seus olhos... e iria embora.
Ele levaria um par de minutos antes de voltar para o ninho, pensando se valeria a pena aborrecer sua esposa contando-lhe de mais uma fã com problemas em discernir ficção e realidade. Decidiu que não valia. Fechou a porta, pensando na beleza do sol que havia decidido aparecer aquela tarde.

sábado, 10 de setembro de 2011

Deixe as louças sujas na pia. Sim, todas elas. Vou limpar essa casa até me sair a pele da palma das mãos. Preciso pensar.

tango del chamo.

Era todo um breu, tudo negro e uma só luz. Os três dançavam um baile indecifrável naquela escuridão. Havia a cor vermelha de seus lábios, de seu vestido, de sua aura. O vermelho também estava no fogo de seus olhos. Fogo paixão e fogo ódio. Fogo ela.
Já não podia dançar, então olhava. Observava a sincronia dele e da outra. A pouca luz lhe impedia de ver mais do que os movimentos que suas madeixas alouradas faziam, respondendo ao comando de um ou outro passo desse baile que ele liderava. A triste espectadora se surpreendeu com a capacidade recém adquirida dele de conduzir uma dança.
Mas não era só isso que sua visão captava naquele cenário lúgubre. Podia também ver o reflexo da escassa luz nos dentes tão brancos de suas bocas abertas, que sorriam. Sorriam num bailar despreocupado, descomplicado. "Así no se baila, cariño", pensou, "Así no se baila el tango".
Assistir a este espetáculo sombrio lhe causava tremenda cólera, numa intensidade que ela nunca havia experimentado. Só o que seu corpo conseguia fazer era manter-se parado, imóvel diante de tamanha dor. Recordava-se de quando aquela mão, que repousava agora nas costas da outra, lhe explorava o corpo em noites sem fim. Estas lembranças estavam tão frescas que se fechasse os olhos era capaz de sentir o calor que causava cada toque dele em sua pele. E sob uma deficiente luz, ainda de olhos fechados, sentiu cada memória rompendo-lhe o tecido epitelial, os músculos, seus órgãos vitais. Sentiu dilacerar-se o coração.
Abriu os olhos vagarosamente, a visão turva pelas lágrimas. Os dois já não estavam ali. "Se metieron por cualquiera de esas calles sucias de esta ciudad apestosa". Deixou cair uma e outra lágrima. Engoliu uma e outra dose. Dançou um tango tão duro que lhe doeu a alma. Foi-se, ela também, por entre ruas sujas dessa cidade fétida à procura de um quarto que acolhesse sua paixão naquela noite.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

terça-feira, 6 de setembro de 2011

pra que gritar?

Ar, muito ar. Janelas abertas deixando o vento entrar. Pulos de paraquedas. Bungee jumping. Peças de roupa jogadas aleatoriamente nas areias brancas de uma praia sem ninguém. Caminhadas sem fim montanha acima. E montanha abaixo. Falta de destinação final, uma passagem com data em aberto. Um pouco mais de ar. Cheiro de incenso e cigarro e sexo. Cada parede ao meu redor, um espelho. Dormir a hora que der vontade. Sofrer de privação de sono. Jogar. Uma cama grande o bastante para que duas pessoas a compartilhem, mas pequena demais para que elas necessitem estar abraçadas durante toda a noite. Cada parede ao meu redor, um grande pedaço de tecido. Mais litros de chá do que alguém poderia tomar em toda uma vida. Trabalhos de arte inacabados. Simetria e a falta dela. Cadáveres de borboletas nos limpos corredores brancos. Uma eterna inquietação. "Um cárcere com as portas abertas". Amor. Um par de asas gigantes e multicoloridas. Cada parede ao meu redor um balão de hélio, mantendo todo aquele mundo em suspensão, bem lá no alto.

o grito.

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

sábado, 3 de setembro de 2011

convertendo suor em água benta.

Sentia uma singular incapacidade de respirar. Era como se cada partícula de O2 que adentrasse meus pulmões imediatamente se dissolvesse, se transfigurasse em qualquer coisa parecida com... vazio. Com nada. Minhas entranhas transformaram-se em um enorme buraco negro que sugava para dentro de si todas as recordações e as esperanças e os desejos, levando-os para algum lugar ao qual nenhum cientista conseguiu chegar. Queria gritar e gritar, mas também meus berros estavam sendo abafados pela sobrecarga de sentimentos que me acometiam naquele momento. Nem minhas cordas vocais se safaram dos golpes que me feriam o corpo inteiro. E quando finalmente saí daquele estado de entorpecimento, fui capaz de perceber outra vez o mundo à minha volta. Suas cores escuras de fim de festa. O cheiro onipresente de cigarro. A sensação de que todo o chão era um grande caramelo, segurando os saltos de sapato a cada passo, resultado de toda uma noite de acidentes envolvendo o deslocamento de bebidas desde os copos em mãos dançantes no ar até o piso. Foi então que recorri ao altar de todos aqueles com um coração partido; a pista de dança. Rezei durante todo o resto da noite para que o santíssimo DJ perdoasse minha luxúria em seu sentido mais puro: o de deixar que as paixões me dominem.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Vive la Fête! e Júlio Cortázar.

Estava pensando agora mesmo em como distorcemos o amor, rebaixando-o à algo parecido a uma instituição ou algo assim. Nas regras e etapas e podes/não-podes. No querer isso ou aquilo ou aquilo outro. No fato de que, com o passar do tempo, nos tornamos cada vez menos flexíveis. Que preferências viram exigências.

Fiquei muito encucada com os caminhos que minha vida sentimental resolveu tomar. Fui virando uma burocrata do amor sem nem me dar conta! Logo eu, que sempre senti arrepios ao entrar em repartições públicas e encontrar cada um em seu cubículo, se escondendo confortavelmente por detrás de divisórias... ah, não!

Percebi que agora, até para amar, faço uso de diferentes departamentos.
Há que fazer análise de risco, relação de custo-benefício, seguro dos amigos em comum.
Examinar com minúcia a vida pregressa do aplicante... e tantos são os formulários a preencher!



Me alegro ao perceber a quantidade de fracassos em minhas lista de romances. É que significa que ando ignorando todos esses dados recolhidos nos dias (às vezes semanas, meses) de observação prudente do objeto de afeição. No espaço ínfimo de um olhar mais intenso sou capaz de jogar essas informações todas em um triturador de papel. Adeus, prós e contras.

Assim, sigo me jogando tolamente. E caindo de amor vez ou outra, e... sabe o que mais? Esperando forte ser sempre (e para sempre) estupidamente apaixonada.

sábado, 27 de agosto de 2011

ipê

"O ipê dá flor na seca"
Foi meu primeiro pensamento da manhã.
Pensei nessas árvores tão brasilienses. Mais que isso até... tão candangas.

Já mais tarde, num zebrinha, enquanto esperávamos que o sinal da 15 norte se abrisse para os veículos, me peguei encarando uma dessas árvores magrelas da W3. Lá estava ela, nua e retorcida. Do seu galho mais alto, uma única flor amarela orgulhosamente triunfava sobre a soberana aridez do cerrado em mês de agosto.

Lhe olhei tempo suficiente para começar a ver meu reflexo no vidro e me dei conta de olhava a mim mesma o tempo todo. O pensamento agora era:

"Sou uma árvore do cerrado"
Pensei na minha beleza nada óbvia, constantemente classificada como exótica. Pensei em todos os retorcimentos da minha personalidade, nos vícios e nas (talvez nem tão) ligeiras falhas de caráter. Pensei no mau humor.

"Sou um ipê do cerrado, que dá flores quando quer. Que dá flores quando tudo em volta é poeira, é secura, é sangue saindo do nariz. Que mostra suas belas cores só quando convém contrastar com o tédio, com a rotina. Sou um ipê do cerrado. Talvez seja hora de florescer. De colorir minha vida."

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

só o amor sabe os seus...

Creio que se há pouco tempo tentasse raspar com uma colher ainda encontraria vestígios do nosso amor. Aquele restinho bom que gruda na panela, que tem um sabor diferente de todo o resto. Hoje, em compensação, penso que nem isso temos mais. E lembro do poeta que já disse:

"O amor é a coisa mais triste quando se desfaz".

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

P.O. Box

Jamás podría ser original al hablar de lo que me provoca el amor. Puede ser culpa de las numerosas películas de Hollywood que he visto en toda mi vida o de los cuentos de hadas y sus promesas de príncipes azules. El punto es que todo que me ocurre es demasiado cliché, demasiado lugar común. Así mismo, no podré dormir esta noche si no vuelvo sentimiento en palabra.
Lo que pasó fue que me llegó una postal de un país muy, muy lejos. Me llegó esta postal justo cuando volví de una obra que me dejó nostálgica como hace mucho tiempo no me sentía. El universo tiene esa manía de hacer unas bromas que no son tan chistosas... Bueno. Yo la leí mientras escuchaba nuestra canción, la que le prometí siempre pensarla cuando escuchare. La leí y fui capaz de imaginar su entonación, sus pausas... su abrazo al final.
En esto momento, me vino el siguiente pensamiento: a cada carta que recibo, me voy llenando más y más y cuando siento que estoy a punto de reventar... no me reviento. Más que eso: descubro que aún hay mucho espacio, pero lo único que puede entrar es amor. Solo hay campo en mí para este sentimiento tan fuerte, tan complejo, tan... inefable.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

pensamentos de parapeito.

Às vezes me pergunto como seria sentar no parapeito da janela de um prédio bem alto, desses que não se pode construir em Brasília. Penso como seria a sensação do vento batendo com doce violência nas minhas bochechas, desgrenhando meu cabelo; eu riria da peraltice desse vento criança. Imagino como seria ter os pés suspensos sobre as cabeças e os pensamentos de todo ser pensante. Estar no topo do mundo e ter certeza de que nem o mais estrondoso dos meus gritos seria ouvido.
Aí a próxima imagem que me vem à mente é do meu corpo deslizando para baixo, rápido e devagar - paradoxo óbvio já que a gravidade me faria cair depressa mas a iminência da morte tornaria tempo uma medida inútil. Meu vestido de flores deixaria que o mundo visse o que todos tentam esconder. Os espectadores recatados de minha queda pensariam "que garota mais sem vergonha!", esquecendo-se até que o impacto daquele tombo importa muito mais do que suas ideiazinhas pudicas.
Por fim, vejo meu corpo no chão. Sem sangue, só flores. Vejo uns curiosos formarem um círculo à minha volta, todos surpresos pela falta de sangue, excesso de flores. Vejo de camarote a um mundo ao qual já não pertenço mais. A nostalgia apagaria todo o horror do que eu havia deixado para trás por vontade própria. Me depararia finalmente com o mundo perfeito. Sem guerras mundiais, nucleares, civis. Uma abundancia inimaginável de flora para todos os lados. Assim seria: sem sangue, só flores.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

guardanapo de boteco.

Aproveitava estes momentos de alvoroço alheio e paz interior para notar a movimentação das pessoas à minha volta, seus trejeitos, seus sotaques, o tom de suas vozes.
Reparei nela colocar a mão sobre a mão dele. Reparei de novo, de novo, de novo e nisso fiquei até que ele finalmente tirasse a mão de lá. Reparei no doce que ele é não só comigo, mas com qualquer transeunte que por acaso cruze seu caminho. Reparei que o que eu sentia se esvaia pouco a pouco, se dissolvia no ar como a fumaça de seu cigarro.

sábado, 13 de agosto de 2011

Em seu prato, um bolo de chocolate com morango com o qual ela se deliciava fechando levemente seus olhos de sansei. No meu, o tranche de morango que foi minha comida preferida por mais tempo do que posso lembrar, mas me anda desapontando ultimamente.
Eu lhe implorava que me desse uma direção, uma luz que fosse para o que eu simplesmente não sei. Ela abstraía de minhas perguntas tortuosas, absorta no sabor que desejava desde o momento em que pôs seus pezinhos no meu quarto.
Lhe dizia minhas aflições em listas: "tenho medo!", "quero ele!", "preciso ir embora!". Ela me escutava com um projeto de sorriso no rosto, e tenho absoluta certeza de que não ouvia uma só palavra do que eu dizia, maldito bolo de chocolate!
Até que explodi em falar de amor. Me conhecendo há quase uma década, ela bem sabe de minha atração magnética por drama. Meu encanto por amores platônicos. Minha mania de terminar relacionamentos unilaterais.
Pois lhe disse que estava cansada disso, de tanto alvoroço o tempo todo. Que o que quero agora é um espelho d'água como o que vi naquela reportagem sobre a Patagônia mais cedo. Que já não quero mais saber de mares em dia de ressaca...
Ela me olhou e disse "Não quer não. Te aborreceria em pouco tempo. Você é sagitariana". E continuou comendo seu bolo, ainda na metade.
Pensei no quanto necessitava de sua presença em minha vida... porque vez ou outra um sonhador crônico precisa de alguém para lhe tirar do universo da ilusão.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

dom

É muito estranho...
Em tempos como este sinto que escrever me drena a vida pouco a pouco.

dolores y adioses.

Já quase se acaba o verão no norte. Significa que começam as aulas nas universidades estadounidenses onde há um tempo me via ingressando - Class of 2015!
Porém, a vida nos leva por caminhos alheios às nossas vontades, para o bem e para o mal. E por isso, por casualidade ou destino ou qualquer que seja a razão, aqui estou: na capital do meu país, acompanhando a partida de muitos dos amores da minha vida para a terra do Tio Sam. Pensando se foi mesmo a melhor ideia não ocupar aquele lugar que me foi oferecido na Simmons College. O que foi que me assustou tanto em Boston? O que foi que me tirou totalmente o desejo de ir pal norte?
Mas não foi isso que acendeu meu pavio literário agora mesmo. Foi ler com muitas lágrimas nos olhos à nota de despedida que minha bela amiga chilena escreveu desde o aeroporto de Santigo que me causou toda uma tormenta sentimental.
Sinto saudade constantemente, se tornou parte de mim no momento em que deixei Brasília pela primeira vez. O que acontece é que tem dias que essa saudade começa a sair por todos os orifícios do meu corpo, boca, olhos, nariz... por todos os poros, células, por todo lugar de onde saudade pode sair! E eu começo a me afogar em agonia, confusão, medo. E esses sentimentos claustrofóbicos me impedem de ver as inúmeras opções que o futuro me apresenta e... AHHH!
Assim estou agora: super-dooper-uber desassossegada, me sentindo a mais inútil das pessoas, completamente assustada com a ideia de ser uma loser para todo o sempre.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

que eu sou cheia de porquês.

Pode-se dizer que sou uma pessoa impulsiva. Ainda assim, agindo de maneira deveras impetuosa constantemente, teria a habilidade de fornecer pelo menos um motivo para ação X. É que me perturba a ausência de explicação. Sempre fui perita em interpretação de texto. Sou capaz de passar horas e horas tentando colocar sentido até no que foi dito sem pensar. Mas isso é problema meu, não? E não quero que seja esse um espaço de exercício do meu narcisismo. Quero manifestar o que o mundo me causa. Me entende?
Para ilustrar melhor, aqui vai uma imagem que sempre me pareceu muito significativa. Sabe quando você olha alguém nos olhos bem de perto? Tão perto que é possível ver sua própria imagem na pupila alheia? Então, é mais ou menos isso. Ao jogar palavras ao vento, estou devolvendo ao mundo as impressões que ele deixa em mim. Em vez de apenas olhar o acontecer da vida, dos momentos, dos acasos, quero que o universo se digne a olhar-me de volta, de perto, a ponto de se ver no negro da minha mirada.
E é por isso que eu sinto necessidade de escrever: para que tamanha imensidão não simplesmente transborde de dentro de mim, mas tome forma e se transforme em algo mais belo.
Bom, também vejo a necessidade de explicar um algo mais sobre este blog: seu nome.
O amor do meu agora é uma expressão que escutei pela primeira vez saindo do quarto compartilhado por uma israelita e uma norueguesa no campus de um colégio internacional na Costa Rica. Falávamos de amor, eu e a menina de israel, já atrasadas para a aula. Lhe perguntei se ela achava que o namoro à longa distância com seu namorado alemão duraria e ela não soube responder. Lhe perguntei se ela achava que ele era o amor de sua vida. Ela pensou um pouco e, enquanto trancava a porta, me disse meio sem pensar que "talvez ele não seja o amor da minha vida, mas é o amor do meu agora".
Essa frase me pareceu muito curiosa porque todo o amor que havia sentido, no momento em que senti, tinha gosto de para sempre. Nunca havia concebido a possibilidade de amar alguém e ao mesmo tempo sentir que aquele sentimento poderia se extinguir, ou transformar-se em algumoutro.
Precisei de muitos adeuses para perceber a beleza não-óbvia desse conceito de "amor do meu agora"; de muitas mudanças para compreender que a iminência do fim não deve tornar algo menos valioso do que de fato é, até porque tudo na vida tem fim...
Com isso em mente, tento acordar todos os dias com disposição para receber de braços abertos o que quer que me seja designado pelo universo.
Okay, that's bullshit. Não acredite nas últimas linhas que escrevi.
A verdade é que estou em constante busca pelo que não tenho. Um dos maiores desafios da minha vida é apreciar o já. Porém, genuinamente busco maneiras de não deixar a beleza do imediato escorrer pelos meus dedos. E é por isso que escreverei sobre os amores do meu agora: desejos, sensações, pensamentos. Tudo.