sábado, 31 de dezembro de 2011

love burst

Há tanto amor dentro de mim que sinto que a qualquer momento vou explodir em cores e pintar todas as paredes do meu quarto. Dos azules turquesas dos mares caribenhos. Dos laranjas das noites de luxúria. Dos verdes e cinzas daquele lugar que aprendi a chamar de casa. Do amarelo do sol nos sorrisos de Amalia. Do branco daquela Dallas que mudou minha vida...

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

dentro da casa de madeira I

Ele andava de pés descalços, cabelos presos. Um leve sorriso lhe aparecia no rosto entre uma frase e outra. Estava sem camisa e era todo um Adônis que cozinhava para mim. Eu me apoiava no balcão e lhe observava os movimentos. Sua leveza e sua beleza eram tamanhos que fui obrigada a rimar.

Não consigo me lembrar quanto tempo durou este olhá-lo cortar cebola, temperar molho, contar-me histórias. Só me lembro de pensar que o tom de sua voz me adentrava os ouvidos como um veludo, fazendo-me carinho e cócegas sem que ele me precisasse tocar.

sábado, 24 de dezembro de 2011

california love.

It pains me to think about how far we are from each other, about the miles between mine and your closet. Not so long ago I'd just craw into your bed when the night was too cold. I'd sometimes wake you up and tell you about an adventure that I had been through just now, or listen to one of your unbelievable journeys that made me want to live your life. I use to think I had found the best storyteller in the history of storytelling! We'd cuddle until we fell asleep and then I'd go back to my bed. I got to meet the only person that shares with me this feeling, this loving to fall asleep together and at the same time not being that into spending the whole night with another person. And so we went for countless nights that I wish I will never forget. I want to remember the scent of your pillow and the temperature of your skin against mine. I want to always be able to go back to seeing myself in your hypnotic eyes... and trying to make you laugh because the wrinkles around them when you do are just too cute.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

L2 Sul/Rodoviária

- Você tava certo.
- Sobre o que?

Sobre o meu querer a ti ser mais intenso que o teu querer a mim.

- Sobre a chuva.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

H. E.

Toda mulher já foi uma garota de treze anos. Para umas mais que outras - como quem vos escreve - foi este um ano marcado pela perversidade da ação da adolescência no quesito beleza física.
Ao atingir o ápice da feiura, surgiu certo interesse de minha parte por alguém. E este alguém não tinha muito em comum comigo, nem tinha nada muito interessante a dizer. Mas era um ser humano bonito, de pele clara e olhos muito muito negros. Uma voz grave que me fazia querer ir pro ensaio da banda* toda manhã.
Nunca lhe contei sobre minha vontade dele. Tampouco contei a nenhuma de minhas amigas - o que levou a melhor delas a ter um affair com o dito cujo que durou não mais do que tempo suficiente para me ferir pouquinho.
Sete anos e muitos amores depois, ganhei ingressos para o cinema. Apesar de amar a sétima arte, não me anima muito assistir o tipo de filme que chega às salas ultimamente. Ah, que bons eram os tempos de Cine Academia..!
Le merde foi estar atrasada. Saí do banho correndo, pingando pela casa inteira, coloquei a primeira roupa que encontrei, o sapato que estava mais perto da porta e me joguei dentro do carro que me esperava há algum tempo debaixo do bloco. Assisti ao filme hollywoodiano incapaz de causar-me um só suspiro que fosse maldizendo o bendito ser humano que me presenteou com o ingresso.
Ao terminar a sessão, já com as luzes acessas, procurei saber quem era o digníssimo que havia performado sons de beijos intensos ao meu lado durante os 118 minutos. Ele. O próprio.
Me pareceu engraçadíssimo que o universo o tivesse colocado ao meu lado no maldito dia em que não deu tempo de escovar os dentes depois de comer Ruffles de cebola e salsa. Que meu cabelo secou encostado à cadeira e ficou aplastado à minha cabeça como um capacete. Que o vestido, o sapato, a bolsa e o casaco tinham cores de gamas completamente distintas. Não teria nem porquê abrir a boca para me gabar de tudo que sempre me gabo quando tento impressionar alguém. Não valeria a pena. Eu tinha treze anos outra vez.
Vi-o ir embora com seus braços enlaçados na cintura de uma menina absolutamente normal, que tinha tido tempo de passar chapinha e base antes de sair de casa.
I was halfway through a bottle of Ricci Ricci when we broke up and now I have to find a new favourite perfume to love.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

de sentir e dessentir.

Essa cura tão imediata dele me faz questionar a existência do amor para sempre. (Não se preocupe, meu bem, que me passam outros pela cabeça quando penso em amor. Não se preocupe que nunca pensei em te ter comigo por tempo sequer próximo a para sempre. Não se preocupe comigo, com nada.) Só que este fim, que me pareceu difícil a princípio, está dissolvendo-se em passado numa velocidade que me é familiar.
Eu sinto e sinto muito, com muita intensidade. E quando acaba, eu morro de amor. E o morrer de amor dura tão pouco que...

Sei lá.

Tô me perguntando agora sobre sofrer quando as pessoas saem de nossas vidas.
Porque o dia hoje foi nublado e eu quase não saí do quarto e ainda assim, estou feliz como há muito não me sentia.
Porque já amei e desamei tanto e continuo aqui.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

04:16 am

Os gritos ecoavam do terceiro andar por todo o prédio. Começou com grunhidos quase inaudíveis, abafados pelo cair da chuva na janela, que num crescendo quase musical culminaram num "e eu te amo pra caralho, porra".
Creio que nos despertamos na mesma hora, mas nenhuma das duas se atreveu a falar. Ainda assim, ainda que no breu e no silêncio, pude senti-la acordada. Conhecia bem sua respiração alterada de quem se punha nervosa com demonstração excessiva de hostilidade. Quando eram nossos os gritos, a respiração vinha acompanhada de soluços incessantes e toda uma tormenta de ressentimentos que retirávamos de abismos dentro de nós para ferir a outra.
Os gritos se fizeram mais altos, como se a porta tivesse sido aberta. Agora nos olhávamos nos olhos. Ainda sem proferir uma palavra que fosse, ainda deitadas nas extremidades da cama, ainda com milhares de quilômetros separando-nos naquela enorme cama de lençóis tão alvos. Via o brilho trêmulo de seus olhos, que não demorariam para desfazer-se em lágrimas e sujariam com sua maquiagem não retirada a fronha branca de seu travesseiro.
Lá fora, eles desciam as escadas. Juras de amor perdiam-se em meio a praguejamentos - ou vice-versa, não sei ao certo. Sei que haviam silêncios que não poderiam ser preenchidos por nada além de beijos dos mais intensos. Era assim que preenchíamos os nosso silêncios quando nos aproximávamos do fim. Era assim que lutávamos desesperadamente para apagar de vez o fogo que destruía sem dó as flores que nasceram em nossos tempos de primavera.
Percebi que as vozes estavam tão próximas que eles poderiam muito bem estar sentados no sofá de veludo vermelho, testemunha de nosso fazer e desfazer amor. Agora nossas mãos se buscavam entre os lençóis, como se procurando por um abrigo, algo onde pudéssemos segurar enquanto aquele furacão invadia nosso sono, nossa relação,nós.
Os gritos seguiram, descendo as escadas e lançando-se à rua, onde chovia ainda mais forte. Le Curiosism foi o que nos fez levantar e olhá-los desde a janela. Corriam de um lado a outro, trocavam farpas e beijos. E beijos. E beijos. Foi olhando-os daquela janela que ficou mais do que claro que era hora de colocarmo-nos em malas e encaixotar as lembranças em comum. Já não fazia mais sentido viver caminhando no campo minado que nossa casa se havia tornado, esperando pacientemente pela próxima vez que algo ativaria uma explosão de mágoas. De mãos dadas, na madrugada de uma terça de maio, nos separamos de forma indolor.
Já faz algum tempo desde este fim. Não sei por onde ela anda, não sei como ela está.
Ouvi dizer que os vizinhos do terceiro andar de vez em quando ainda dão seus espetáculos... mas somente em noites de chuva.

sábado, 17 de dezembro de 2011

faz ainda mais sentido agora

"Certamente você tem medo demais, Doutor Campbell, pra realmente sentir as coisas lá bem dentro de você (...) E esse certamente é o único modo que eu posso entender, Doutor Campbell, aquilo que você pode querer dizer com o que que é que você tá sempre dizendo pra mim. Interesse por você? É claro que eu me interesso por você... muito menos do que você pensa e muito mais do que você pode imaginar"

Melanctha

sábado, 10 de dezembro de 2011

Me desculpe se o que tinha a oferecer não era aquele amor insosso no Leblon de Manoel Carlos. No entanto, era um algo tão mais gostoso de viver, amor, tão mais pulsante. Um tu e eu inédito. Qual o mal de ter nosso horário nobre entre as duas e as cinco da manhã?

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

sete dias

Agora que não durmo mais contigo, ando dormindo com Caetano. Nosso romance começou bem naquela quarta-feira quando eu lhe disse adeus e você não me pediu que ficasse. Começou depois que você fez questão de causar toda uma tormenta em minha cabeça. Lembro que eu pegava minha bolsa e meu casaco nos ganchinhos da parede daquela sala na qual não saberei mais entrar, porque para sempre carregará o peso de ser o último lugar onde eu estava contigo e você estava comigo e éramos os dois um do outro. E foi lá que ele me ganhou, desacelerando meu coração com seu cantar.
A verdade é que não me recordo qual era a canção que tocava no momento... sei que era daquela fita cassete que dava pau toda hora e nos fazia interromper a conversa de tempo em tempo para clicar no auto-reverse; por isso tenho certeza que é uma das antigas. É possível que seja O Quereres... mas devo admitir que talvez pense nesta porque ela expressa a intensidade do querer que me causava estar contigo. De qualquer maneira, foi assim mesmo que aconteceu: tocava Caetano, eu lhe disse adeus e você não pediu que eu ficasse. Desde então, You Don't Know Me virou minha canção de ninar e meu último pensamento antes de cair nos braços de Morfeu é "laia ladaia sabadana Ave Maria" logo depois de pensar que é fato que não tomaste tempo para me conhecer, nem eu a ti. E assim durmo um sono agitado para acordar com uma puta vontade de "botar fogo neste apartamento"! Se eu te dissesse, tu não acreditarias... e se acreditasses, irias bem para longe de tanto medo - como, de fato, o fez. Aliás, acho que foi bem culpa deste teu não entender nada que te afastou de mim. Te faltou compreender que eu queria te levar comigo quando fosse ir-me embora, dar o fora...
Provavelmente nunca passará pela tua mente o que desencadeou a escritura deste desabafo. É bem capaz de que nunca chegues perto deste texto nesta vida. Porém creio importante, para que conste nos autos, como foi que me surgiram estes devaneios tropicalistas na cabeça. O que começou a tocar agora mesmo, durante minha tentativa de colocar ordem no universo começando pelo meu quarto, foi Zii e Zie. Me peguei segurando o telefone durante muito tempo, olhando para o nada, sem sequer notar que os raios de sol que passavam pelas frestas da cortina me queimavam o braço. E foi necessário ser bombardeada pelos verbos no pretérito perfeito de Perdeu para me dar conta de que foi neste mesmo pretérito que ficou o nós. Ficou antes de eu lhe dizer adeus e você não pedir pra eu ficar. Por isso nem te liguei. Por isso você nem me ligou. E "o sol se pôs, depois nasceu e nada aconteceu".

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011