quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

H. E.

Toda mulher já foi uma garota de treze anos. Para umas mais que outras - como quem vos escreve - foi este um ano marcado pela perversidade da ação da adolescência no quesito beleza física.
Ao atingir o ápice da feiura, surgiu certo interesse de minha parte por alguém. E este alguém não tinha muito em comum comigo, nem tinha nada muito interessante a dizer. Mas era um ser humano bonito, de pele clara e olhos muito muito negros. Uma voz grave que me fazia querer ir pro ensaio da banda* toda manhã.
Nunca lhe contei sobre minha vontade dele. Tampouco contei a nenhuma de minhas amigas - o que levou a melhor delas a ter um affair com o dito cujo que durou não mais do que tempo suficiente para me ferir pouquinho.
Sete anos e muitos amores depois, ganhei ingressos para o cinema. Apesar de amar a sétima arte, não me anima muito assistir o tipo de filme que chega às salas ultimamente. Ah, que bons eram os tempos de Cine Academia..!
Le merde foi estar atrasada. Saí do banho correndo, pingando pela casa inteira, coloquei a primeira roupa que encontrei, o sapato que estava mais perto da porta e me joguei dentro do carro que me esperava há algum tempo debaixo do bloco. Assisti ao filme hollywoodiano incapaz de causar-me um só suspiro que fosse maldizendo o bendito ser humano que me presenteou com o ingresso.
Ao terminar a sessão, já com as luzes acessas, procurei saber quem era o digníssimo que havia performado sons de beijos intensos ao meu lado durante os 118 minutos. Ele. O próprio.
Me pareceu engraçadíssimo que o universo o tivesse colocado ao meu lado no maldito dia em que não deu tempo de escovar os dentes depois de comer Ruffles de cebola e salsa. Que meu cabelo secou encostado à cadeira e ficou aplastado à minha cabeça como um capacete. Que o vestido, o sapato, a bolsa e o casaco tinham cores de gamas completamente distintas. Não teria nem porquê abrir a boca para me gabar de tudo que sempre me gabo quando tento impressionar alguém. Não valeria a pena. Eu tinha treze anos outra vez.
Vi-o ir embora com seus braços enlaçados na cintura de uma menina absolutamente normal, que tinha tido tempo de passar chapinha e base antes de sair de casa.

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