quarta-feira, 26 de junho de 2013

terça-feira, 18 de junho de 2013

flama

Cada dia daquela semana teve quinhentas horas e todas elas passei te querendo um monte. Só que nesta hora tu não passava de silêncio e distância. Acabei por me encontrar só (só, somente só) quando não era minha escolha, e foi na marra que aprendi a ficar de boa. A deitar a cabeça no travesseiro e não listar tudo em mim que poderia ter te cansado.
Aí achei melhor tomar as rédeas de minha vida; engoli minhas emoções sentindo a boca seca e rangendo os dentes. Ignorei os soluços sempre alertas, prontos para verter em rios salgados meus nervos à flor da pele. Fiquei bem.
Bem aí tu me aparece em formato codificado, um par de frases na tela; abre meu coração tal caixa de Pandora. E dele sai tanto paradoxo que fico constantemente a ponto de te esquecer ou te pedir em casamento.
Eu devo te amar de verdade.
- Ah, então tu é formado em História? E que parte dela te interessa mais?
- Fazê-la.

domingo, 9 de junho de 2013

para as meninas do meu trio

Havia anos desde a última vez que se dera este encontro. E, para mim, não foi de forma alguma uma visita ao passado. Encontrá-las me faz pensar na vida que temos pela frente, em tudo que ainda vivenciaremos para que sempre haja pauta pra diálogo e reflexão enquanto esvaziamos um Concha y Toro. Quem diria que depois de tantos anos esta reunião se daria assim? No meu novo lar, durante uma efêmera visita de uma e às vésperas da partida da outra. Como se reencontro e despedida fossem uma mesma matéria.

Um dia o universo nos entrelaçou os destinos.
Desde então foram incontáveis os passos
para tantos, para todos os lados...
já nem lembrou qual era o plano no início do caminho.

Acordei contente. Pensando na beleza que há na passagem irrepresável dos anos, que nos trouxeram desde aqueles tempos de lúdica angústia a estes de maior consciência tanto do pesar quanto do gozo. Acho absurdamente lindo estar presente no crescimento delas e dividir também minha evolução.  A lonjura física tão presente neste amor não consegue apagar aquilo que já está grafado em letras garrafais por todo meu ser.
Sou feita de caminhadas sem rumo em tardes de quarta-feira, de pedaladas até a Ermida, de cigarros de canela, de conversas em telhados, de LP's usados, de poesia, de montanhas russas de madeira, de viagens para el sur que es nuestro norte,  de vontade de gritar compartilhada. Sou feita daquele primeiro dia de aula quando cheguei atrasada e dentre os lugares remanescentes, decidi que seria minha a carteira ao lado dela. Ou daquele milésimo dia de amizade quando não consegui pesar se a alegria do sonho que estava para realizar era maior do que a tristeza de deixá-la aqui.

E deixe que passem os anos,
refaçamos a cada dia nossos planos,
choremos desde o fundo da garganta os desenganos.

Y después salgamos de fiesta.
Ay, ya no busquemos más respuestas,
que se vaya a la mierda lo que nos molesta.

Levo uns minutos pensando em como não estragar este escrito com obviedades melosas e me parece difícil encontrar um desfecho. Deixo assim em aberto, para que haja possibilidade de adicionar o que for durante os próximos tempos. Sejam estes horas, semanas, décadas...

sábado, 18 de maio de 2013

wet (lucid) dreams #1

I thought of you picking me up and just driving, heading a place where the city lights wouldn't be able to obscure the glow of the stars. I rolled a joint that you considered complaining about and put on music you didn't like. But this all slipped off your mind as I used my fingers to gently separate your lips and blew a thick white smoke between them. I stared into your eyes too deeply, almost reading your mind. You noticed the incursion and looked away while grabbing the rolled cigarette from my hand.
We were half way through it and I was kissing every inch of your face, where you were hardly ever kissed; your nostrils, eyebrows, chin. You had your eyes closed and only opened them to watch me take a hit
- So many kisses, do I deserve all of them?
If I was to answer honestly I'd tell you no. I was perfectly aware that the amount of loving I gave you was much more than you could ever reciprocate, way more than your Aquarius would allow you to earn. So I simply gave you a kiss that should be read as
"it doesn't really matter if you deserve it or not;
all of them belong to you.
all of me too."
We laughed until our bellies started to ache and had no idea how that burst begun. I only recall it was related to our newly acquired matching burns on our thumbs and indexes. It took me a while to compose myself again. When I did so, my hands were unwittingly under your clothes. They found their way through your sweater and shirt to find the warmth of your skin.
You opened my blouse, carefully undoing the golden buttons one by one. I slowly slid to the back seat, trying to keep my eyes right on yours throughout the process. Leaving the skirt on, I took off my lacy purple undies for your viewing pleasure. Before I could catch a breath I was already feeling the weight of your body over mine. If I leaned back I could watch the silver smile of a crescent moon. And under a perfectly aligned solar system, you became Uranus just for me. 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

privação de sono

O céu tem uma cor arroxeada que não vejo com muita frequência; amanhece. Ser notívago que sou, geralmente não acordo tão cedo para presenciar essa coloração do firmamento. No entanto, não consegui fechar meus olhos um segundo sequer esta noite. Trinta mil pensamentos me invadiam a cabeça a cada pequena tentativa, acompanhados desse rascunho de taquicardia que me é tão familiar. É um desassossego sem jeito esse, viu?



Não sei de onde veio. É sempre difícil saber de onde vem.



Só sei que minhas têmporas doem e meu corpo pede arrego. Já não tenho mais força alguma para dar voltas dentro de minha cabeça... e o céu já azul bem claro promete que um sol tremendo vai impedir meu sono REM.

São estes os momentos mais perigosos. Nestas horas, todos os sentimentos afloram de maneira - - - fiquei em dúvida se usar intensa (me parece óbvio) ou insana. É, fico com insana. O que sinto se manifesta de um jeito nada saudável. A gravidade exerce seu peso sem clemência alguma e não há chão que comporte meu peso. Sigo em queda-livre terra adentro.


Desejo que o desfecho desta queda seja, como sempre, um abrupto despertar para uma realidade outra. Neste caso, excepcionalmente, que essa existência seja um universo onírico de textura aveludada e cheiro de frutas cítricas.

domingo, 12 de maio de 2013

At the very beginning he asked me
- are you sure you aren't sinking into this deep enough to get hurt?
I told him not to worry and indeed he shouldn't, 'cause my heart is mine to lend or even give whoever I want to and right now I choose to leave it in his warm hands with a big blue lace on top and a little note that says

'forget me not'.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

não pode doer

(...)

Eu o segurava perto, bem perto de mim para sentir seu corpo inteiro. Na minha cabeça tocava Ne Me Quitte Pas porque a vontade que eu sentia era mesmo essa, de que ele nunca me deixasse, nunca saísse de mim. Nessa hora fazia barulho lá fora: o tráfego dos automóveis, a prosa dos pedestres, "descobri que te amo demais..." em volume elevado saindo de um alto-falante, britadeira trabalhando na reforma de alguma calçada e uma ambulância ligeira encontrando seu caminho por entre os carros. A cidade era só caos lá fora e ainda assim essa desordem não conseguia invadir a atmosfera de paz que criamos naquele quarto. Lá dentro não cabia nada além de nós e o que deixamos fazer parte de nossos pensamentos durante aqueles dias; nossa vida pregressa e nossos sonhos futuros, ideais compartilhados e também os dissonantes, memórias. Ali, a infinidade de nossos seres coexistia pacificamente, acomodados de maneira harmoniosa entre armários, janelas e paredes.

terça-feira, 7 de maio de 2013

catarse o casi

Lo leía por entre las líneas de sus manos y las arrugas de su rostro. De tanto hacerlo, aprendí a este hombre como si fuera mi lengua materna. Y no fue necesario mucho tiempo hasta que los pensamientos míos empezaran a ser casi todos en ese idioma-él surrealista, dialecto-criatura sinestésico, lenguaje-ente sinfónico. De ahí para que mis acciones se hicieran suyas fue un saltito, no más, y ya ni siquiera sabía que era yo y que era él, y no podría decir que lo que existía allí era un nosotros porque, en realidad, yo no fui casi nada mientras lo tuve en mi vida.

(...)

quinta-feira, 2 de maio de 2013

planalto das estrelas nascentes.

Levantei da rede que vai de um lado a outro do quarto e caminhei até a sala, onde o celular sinalizava alguma atividade. Sorri durante esta pequena travessia pensando que a falta de paredes faz com que qualquer classificação em cômodos do espaço físico do Ninho seja realmente jocosa. E sorri um pouco mais quando vi que o que causara inquietação ao meu telefone fora uma mensagem de quem se dispôs a construir junto comigo este ambiente. Neste momento percebi que o sol se punha e já passava da hora de sair de dentro de mim.
Este desastroso senso de direção me fez tomar o ônibus errado, acontecimento que não me choca, mesmo tendo vivido duas décadas nesta cidade e supostamente conhecendo os itinerários dos coletivos que passam pelo centro. De qualquer forma, fui parar na Torre de TV, onde uma orquestra me lembrou de tempos outros nos quais era eu em um palco, esperando pela sinalização da próxima pausa e cuidando para não desafinar no solo de flautas. Sentei-me à beira da fonte que  testemunhou muitas discussões acerca de inquietações e amor com a musa de grande parte de meus escritos ao longo do último decênio. Pensei na quantidade de matéria-prima literária havia sido extraída de momentos compartilhados ali.
Depois de algum tempo, senti um chamado por parte de uma canção muito estimada. Aproximei-me do palco, para então deparar-me com a presença de uma antiga companheira de jornada. E logo que nos despedimos e rumei para destino outro, reparei que passava por uma estrada onde oito anos antes, numa tarde de clandestina peregrinação, assistimos ao fracasso de um pivete na tentativa de surrupiar os pertences de uma senhora que não hesitou em ridicularizá-lo: "Se toca, muleque, 'cê ACHA que com este tamainzin consegue levar minha bolsa?"
Ao cruzar a pista topei-me com o jardim que seis anos atrás fora pisoteado por duas garotas que recém haviam descoberto que a vida poderia ser exatamente como desejavam. Tal realização causou em ambas um desejo louco de correr noite adentro, mundo afora.
Um afluxo de nostalgia me tomou o corpo inteiro. São tantos os anos de perder-me por estas ruas que as histórias começam a se atravessar. Mais do que recordações claras das situações, guardo a lembrança das sensações. Olhei para cima e lá estavam todas as estrelas que passam a maior parte do ano ornando o firmamento sobre este cerrado seco. Neste instante começou a tocar In the Valley of Dying Stars e eu pensei em Brasília como um planalto onde nascem grandes, enormes massas de energia; seres humanos com luz própria, de magnitude inefável.
Por mando do destino e para sua sorte, pouco a pouco elas tomam seus caminhos. Descobriram-se meteoros e escolheram cair para lados outros. Enquanto a humanidade se preocupa com o aquecimento global, comecei a sentir sintomas de resfriamento da Terra, resultado do afastamento das fontes naturais de calor existente em seus abraços. No entanto, ao olhar para este céu sem nuvens, tive absoluta certeza de que continuarão a alumiar os passos que dou, errante caminhante que sou. E sempre que procurarem direitinho, me encontrarão em algum canto; algumas vezes com fulgor mais intenso, noutras, descansando desse viver tão desesperado.

sábado, 27 de abril de 2013

muse fortuite VI

O sol tomava o apartamento inteiro, seus raios invadindo por entre as frestas irregulares da persiana antiga. Ma muse ainda dormia profundamente, nem percebeu quando me desvencilhei de seus braços e passei para a cama ao lado. Li um par de zines, um par de capítulos de Rayuela, um par de poemas do Leminski. Olhei para o lado e seus olhos de ser-místico-que-até-hoje-não-consegui-nomear pousavam em mim; por cima de seu sorriso ininteligível, o bigode desgrenhado lhe dava um ar ainda mais alegórico. Pensei no que discutíramos acerca da obra de Lewis Carroll algumas horas antes e sorri de volta:
- De que buraco 'cê saiu, garoto, para que buraco 'tá me levando?
Ele serpenteou até o leito onde eu estava, com a malemolência intrínseca que me desarmou desde aquele dia no qual sentou-se ao meu lado em um ônibus que nos levou a uma cidade paradisíaca do nordeste; bastou não mais do que uma das cinquenta e seis horas que passamos ali para que eu me tornasse viciada em doses sazonais de sua magia. Ma muse carinhou-me da cabeça aos pés, eu de olhos fechados, ele usando todas as partes de seu corpo para me acariciar das formas mais inusitadas. Esbarramos nas coisas que ocupavam o colchão.
- Ah, escritora, sempre com tantos livros na cama...
- Sempre não, bonito... vez ou outra tenho musas. 

terça-feira, 23 de abril de 2013

o fim de uma era

Acho terrivelmente doloroso finalizar um escrito. Na verdade, me parece muito difícil saber a hora em que um ponto é, de fato, final. Por essa razão tenho tantos pedaços de alguma coisa jogados pelo quarto, cadernos cheios de possíveis não sei o que, rascunhos esquecidos do que era mesmo que eu estava falando? Assim mesmo, bem caótico, bem ininteligível. Uma bagunça como a que sou.
Durante os últimos meses o assunto principal foi este tal amor, em suas diferentes formas e configurações. Essa pesquisa, que já tem duração de quase dois anos, me pareceu fastidiosa de tempos em tempos. Sentia-me presa a um só estilo de escrita, a um só assunto. Julgava-me deveras incompleta como artista.
Foi algo dito por Marina Colassanti que me acalmou os nervos. Eu a acompanhava até o aeroporto depois de sua participação na Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Conversamos longamente durante este dia sobre a construção do eu-escritor, sobre as possibilidades no universo da literatura. Até que, já em frente ao setor de embarque, ela me aconselhou: "Termine o que está fazendo antes de começar outra coisa. Escrever não é só inspiração, garota, é disciplina". Já sem culpa por gastar tantas linhas divagando sobre amor, segui explorando tal tópico; na literatura e na vida.
Só que ainda me agoniava como seria o fim de tal busca. Afinal, não é em uma novela que estou trabalhando no momento presente; é um apanhado de contos e um par de crônicas. Como saber que é suficiente? Pensei no que disse Paul Valéry, "os poetas não terminam os poemas, eles os abandonam", e na próxima vez que me enfadasse, passaria umas duas madrugadas editando tudo, terminaria o tal projeto e pronto! Abandono absoluto. Como fazem Gabriel García Marquez e Johnny Depp*. Simplesmente não passaria mais os olhos sobre meus trabalhos.
Até que me deparei com um final digno para essa jornada. Encontrei inspiração e disciplina para deixar este livro pronto para os editais que aparecerem pelo caminho. Espero finalizá-lo de fato em um, dois meses, se o ritmo for mantido. E será lindo ter este blog como registro das tentativas, das possibilidades, de tantas coisas que desbravei durante este tempo.
Este pode (ou não) ser um prólogo de um adeus.


*Só mesmo quem vos escreve consegue colocar em um mesmo parágrafo Valéry, García Marquez e Johnny Depp... tsc tsc...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

amor de lua nova

fico feliz que em nossas recordações não haja nem lua nem estrelas pairando sobre nossas cabeças.
assim, elas ainda me pertencem:
refúgio meu para não mais pensar em ti.

sexta-feira, 29 de março de 2013

"como vocês vão viver um sem o outro?"

Tenho escutado esta pergunta com muita frequência nos últimos tempos e a verdade é que não há como respondê-la com precisão. Não sei, não sei mesmo. Estou tão acostumada a tê-lo comigo, meu amor, na alegria e na tristeza... Já nos dissemos adeus outras vezes, mas antes a ausência parecia passageira. E eu não sei como será uma vida sem ti. Saberia dizer, no entanto, como foram os instantes seguintes ao nosso adeus mais recente:
houve um delíquio resultante da mescla entre envenenamento alcoólico intencional, sensação claustrofóbica de estar em um porão esfumaçado e tua decisão de ir embora. Ainda tentei um ou dois passos na pista de dança até prudentemente me jogar no sofá, onde chorei um pranto cujos decibéis calaram as caixas de som. Não me lembro de escutar música alguma durante estes momentos até que alguém sentou ao meu lado e passou o braço em volta dos meus ombros:
- O que aconteceu?
Contei àquela estranha que em algumas horas meu melhor amigo de década(s) iria embora de vez, deixando-me sozinha nesta cidade odiosa. Narrei algumas de nossas histórias para ter certeza de que ela entenderia as origens do pranto. Os tantos anos nos quais nossas biografias se entrelaçaram passearam por minha cabeça na velocidade da luz, aumentando ainda mais a vertigem.
- Vou lavar o rosto, beber uma água. Obrigada.
E segui tropegamente até o banheiro, onde o espelho me mostrou uma eu de aparência enferma, sem cor. O frio da água me acordou e percebi o quão ridiculamente cinematográfica fora nossa despedida. Sorri e senti muitas ganas de rir contigo. Subi correndo as escadas e lhe busquei naquele mar de gente... e tu havia ido embora, amor!
Fiquei perceptivelmente hecha mierda, forçando-me até a mentir quando passou um conhecido saudando-me com o usual:
- Oi, tudo bem?
- Tudo sim, e contigo?
Desci vagarosamente os degraus, carregando o insustentável peso da tristeza sobre minhas costas. Pensava em maneiras de não ser afetada negativamente por coisas sobre as quais não tenho poder. Refletia sobre como ficar bem. E a resposta do universo foi imediata.
Ainda no último degrau da escadaria, a multidão se abriu para que eu encontrasse um abraço que me levou de volta ao meu habitual lugar na pista. Foi ali que, melodia após melodia, recuperei as forças e a vontade de ser feliz. Quando subi para respirar encontrei um pouco mais de acolhimento que veio em forma de duas horas de partilhar sonhos e desejos com alguém no mínimo inesperado, além de um par de abraços de outrem.
No caminho de volta para casa, me dei conta do cuidado que havia recebido depois de nossa separação. Conhecidos e desconhecidos foram titereados pelo destino (será?) para que eu ficasse bem. E deu certo.
Não sei como viverei sem ti, amor meu. Porém alguma coisa me diz que esta nova fase pode ser interessante para nós; me dá certeza de que somos cuidados por uma divindade muito iluminada. E se há algo que nunca nos faltará nesta vida, mon ami... é muito, muito amor.

segunda-feira, 25 de março de 2013

cayendome para arriba en un sur que es mi norte

Corro de um lado a outro. Aqui é uma eterna busca, um sempre caminho.
Perco-me e levo tantas ruas para me dar conta que nem vale a pena ficar aborrecida; refaço o tal trajeto, refaço a mim inteira entre a Córdoba e a Santa Fé para chegar em Las Heras já outra mulher.
A que chega com medialunas pela manhã não é a que volta com empanadas à noite;
e toda vez que tiro do bolso o par de chaves que ganhei ao chegar nesta casa penso na delícia que é compartilhar a beleza da existência com quem se ama. E quando escuto o falar tão doce do português argentino da Iemanjá que me cedeu espaço em sua casa, em sua história e em sua vida sinto meu coração quase explodir dentro do peito.
Tenho escrito muito pouco e, dessa vez, não é falta de inspiração.
É falta de ar.
Excesso de viver.
Demasiado enamoramiento deste agora de sabor tão doce.

quarta-feira, 6 de março de 2013

número três

Eu ainda estava bronzeada, tinha os cabelos mais claros, queimados de sol, e um pouquinho mais de curvas, resultado do tempo que vivi noutra parte. Minha busca por equilíbrio estava em seu auge; meditava, fazia yoga, práticas corporais alternativas eram parte da minha rotina. Voltara havia pouco de um paraíso com praias de beleza estonteante. Estava bem. Muito bem.
Ele apareceu meio do nada, levou até uns dias para que reparasse em sua presença. Depois só o que fez foi causar rebuliço. O vendaval foi tanto que em um momento de loucura e ebriedade vínica, peguei um ônibus depois da meia noite para tê-lo em meus braços. Fiz algumas outras loucuras após a supracitada e até hoje não foram retribuídas. Foi tudo muito fatal. Perdi-me completamente nessa paixão.
No fim de uma tarde que passamos quase toda horizontalmente, o céu multicolorido brasiliense como cenário, ele me abraçou mais forte na despedida. Mimoseou-me com mais um beijo e disse:
- Só há você agora em minha vida.
Poderia pensar em algumas dezenas de finais românticos, poéticos para esta cena. Os olhares fundos nos olhos, contatos de mãos sutis mas cheios de significado, um longo tocar de lábios para arrematar. A realidade, no entanto, não imprimiu tanta beleza ao momento. Lhe respondi:
- Com quem tu sai, meu amor, não é de minha conta. E vice-versa.
Um par de encontros depois, ele pediu arrego:
- Você é um problema para mim.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

european redneck #2

I told him to leave me alone that night I was such a mess. Instead, he showed up at my door with a fake pink flower. He handed it to me as he said:
- All you need to do is to destroy something beautiful.
So I did it while silently screaming all the hatred that had been intoxicating me the past few weeks.
Then I began listing all the accrued sorrows I was going through in the most humorous way I could find. I was facing the mirror, putting on outrageous orange eye shadow, trying to laugh of my own pathetic jokes. When I looked back, he was severely crying tears that belonged to me.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

There's only so much I can apologize for.
And for some of the things you want me to
I do not feel sorry.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Acordei pensando nele; em sintetizadores e galpões grafitados. Na linha Circular 116.1 e encontros inesperados. Em colisões voluntárias e desejos heterodoxos.

Quando comecei esta reflexão, o título era "The man that makes me want to go steady". Depois de escrever e apagar muitas linhas, percebi que seria mais acurado nomear um registro sobre ele como "Capricho", no seu sentido mais puro de querer infundado.

Decidi não nomear o texto e dissuadir-me de pensar nele, que encontra-se fora do meu alcance por tempo indeterminado. Há anos ele optou por possuir e ser possuído. O homem que me faz querer casar já desfruta de uma relação monogâmica com outrem.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

walk away

Estou há um tempo tentando traduzir walk away  para o português e o mais próximo que consegui foi uma descrição da última vez que o vi.
Dancei até as luzes da festa se acenderem, indicando seu fim. Olhei para trás. Ele estava perto o bastante para olhar-me, mas suficientemente longe para que não houvesse necessidade de cumprimentarmo-nos. Jaqueta de couro, cigarro na boca; sua beleza decadente foi o que me chamou a atenção na primeira vez que o vi e seguiu encantado-me outra e outra vez. Há alguns anos, ao assistir Rebel Without a Cause, pensei em James Dean como o ápice da sensualidade masculina... e no início da vida adulta, finalmente realizei meu capricho adolescente de sair com um homem assim.
Nossos olhos encontraram-se sem querer. Havíamos passado a noite toda delicadamente fugindo um do outro para respeitar nossos campos energéticos, que andam incompatíveis nos últimos tempos. Porém naquele momento, não houve fuga. Olhamo-nos. E o que me pareceu mais correto comigo mesma foi voltar meus olhos para o amigo que me acompanhava, perguntar-lhe qualquer coisa sobre qualquer assunto, sentar e aliviar a pressão sobre os pés calçados em salto por tanto tempo. Esquecê-lo.
Só que temos uma danada de uma visão periférica que pode ser muito traiçoeira. E a partir dela vi as mãos do meu Jim Stark percorrerem as costas de um vestido branco. Não poderia descrever a garota que o vestia. Meu foco foi no movimento dele, que a tocava de cima para baixo. Pensei que ele era óbvio demais em suas investidas. Senti vontade de fumar um cigarro.
Creio que foi este o momento no qual consegui walk away. Apaguei seu número de minha lista de contatos no celular. Suas mensagens também. Não tenho maneiras de encontrá-lo por querer próprio. A sincronicidade funcionou de forma a fazer meu motorista da noite declarar-se pronto para partir. Segui-o em direção à saída, e por alguma razão ele escolheu o caminho menos óbvio, pelo qual passaríamos entre uma grade e... bem, ele. Ele.
A cada passo me perguntava qual seria a atitude de maior elevação espiritual, qual seria mais condizente com quem almejo ser, o que fazer desse encontro. E na hora da decisão final, respeitei-me apenas. Se ainda existem coisas que desejaria dizer a ele, certamente não seria às cinco horas da manhã, numa casa noturna. E se não for verdade, não há porque sair nada dos meus lábios. Não queria perguntá-lo se ele estava bem, muito menos sorrir, dizer que eu também. Não. Só... não.
Passei por ele. Fui embora sem olhar para trás. Disse ao meu amigo que ele havia presenciado a remoção de um grande peso de minhas costas. Senti minhas asas estendendo-se outra vez. Estou livre. Já não há a âncora que ele me havia posto em um porto de areia movediça. Não vou mais ser sugada para esse fundo no qual não há fim nem salvação. Eu walked away para seguir por uma rota distinta. E não aceito grilhões que me prendam a ele de forma alguma. Creio que o que tivemos foi suficiente.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O amor da minha vida.

Passei a vista sobre os escritos reunidos neste blog. Foram trinta e quatro musas e musos que inspiraram os textos produzidos em um ano e meio de pesquisa acerca do amor. Nesse período, li de Platão a Roberto Freire, passando por Gertrude Stein, mas sem esquecer João Ubaldo Ribeiro. Também nesse tempo, fui protagonista de umas tantas histórias de amor e passei por alguns desencantos. E reencantos. É que esse tal de amor é fluido, sabe como é...
A expressão "amor do meu agora" costumava soar genial. Parecia-me condizente com a maneira como desejo viver meus amores: contem em si a efemeridade do agora e a eternidade do amor, absolutamente precisa!
Acontece, queridões e queridonas, que andei mudando minha percepção sobre essa afirmação. Começo a ter a sensação que a estes tais amores do agora lhes falta uma boa dose de honestidade. E não consigo conceber associação entre afetividade e falta de verdade.
Dei-me conta nestes últimos dias que o que almejo viver de fato são amores de vida inteira. Amores com quem cresci e posso seguir crescendo junto. Amores que já chegaram à minha vida um pouquinho mais tarde e por razões que desconheço sinto que sempre estiveram ao meu lado. Amores que desaparecem de vez em quando e voltam de maneira orgânica. Amores que me raptam de casa à uma da manhã para passar tempo sob um céu lindo, estrelado. Amores que me acompanham em belíssimas alvoradas. Amores que vivem longe e não me esquecem. Amores com quem haja aprendizado, confluência de vivências, aconchego.
As características supracitadas não foram idealizadas. Cada adjetivo, cada momento descrito é tão real quanto poderia ser*. Não peço ao universo nada mais do que algo não só possível como existente. Cotidiano. Os amores da minha vida estão aqui. Alguns ao meu lado no agora, outros esperando a deixa do universo para colocar-nos outra vez no caminho um do outro. Nem me preocupo. Nossos encontros acontecen na hora certa.
Esta reflexão teve como trilha sonora uma canção que conheci em outra vida, quando meu quarto era iluminado por velas e luzes de natal. O ar cheirava a incenso. Era um mundo a parte, onde descobri um par de significados distintos para o sentir demasiado que tenho dentro da caixa torácica. Foi numa noite de lua cheia que tal canção tocou. Lembro disso porque imediatamente coloquei-a no iPod e me pus a caminhar sob o belo manto desalumiado da noite centro-americana. Sozinha. Olhei para cima e desejei que aquela mesma lua estivesse iluminando os caminhos de todas as pessoas que cabiam dentro de mim. De minhas memórias mais queridas e por mais ridículo que possa soar, de meu coração.
Que possamos entender o que nos desassossega. Que colhamos o que plantamos. Que encontremos dentro de nós toda a força necessária para desfrutar cada um dos passos de nossas jornadas.
Happy Valentine's, amores de minha vida, do meu passado, do meu presente, do meu futuro.

* "Tão real quanto poderia ser" foi uma tradução direta de "as real as it can be" e talvez faça um pouco mais de sentido em inglês. Não consegui achar, no entanto, uma frase que remetesse a este exato sentir. Deixo, então, esse pequeno deslize imortalizado.

** De acordo com Roberto Freire em Ame e Dê Vexame!, quando os franceses querem enfatizar o sentimento de amor por alguém utilizam-se da frase je t'aime d'amour - eu te amo de amor.

a greek god and the end of the festival of the flesh

I was dancing the sorrow out of myself, wishing the DJ would never stop playing. Fifth day in a row. Carnival was the chock treatment I chose in order to heal from what I had been feeling. Eyes closed, heart wide open, I was a dancing goddess, glad to be in another state of consciousness... till I felt a familiar arm grabbing my waist and his voice in my ear:

- You know you rock, don't you?

I opened my eyelids slowly, almost afraid of what I was going to see.

As I proceeded my way down the stream of memories he arouses in my mind, all I could do not to seem like a completely idiotic person was jumping right into his hug. I knew it would be a dangerous thing to do. Whenever we got together like that, close enough for us to feel each other's heartbeat, I'd spend the next week trying to get my head out of his beauty. This one, though, only lasted long enough for me to think of a semi-clever thing to say. It lead to another hug, followed by a kiss in the cheek.

I believe it was the first time he kissed me in such a brotherly way. When we were friends, I remember, all our touches were arousing, there was a constant desire in the words we uttered. We were fire on fire, even on the night he made clear that would be the last one we'd share. And so this little kiss was both chocking and relieving.

But then... he did it: stared into my eyes deeper than I could ever explain; touched the back of my neck somehow between soft and harsh; got indecently close to me.

- Yesterday was my birthday.

I laughed about how this whole increase of sexual tension culminated in such a non-sexual statement. It made me happy to learn that there's nothing there to save. And it made me think that... for some reason I'll probably never know, the universe wanted me to celebrate it with him.

Even though we no longer coexist, he was certainly something in my life. I used to count the hours to the moment we'd see each other again. He used to drive me home as slow as he could so we'd have more time to talk. We used to share so much of ourselves, things we never thought we'd feel like expressing in words. It was the most peaceful period I experienced since getting back to this town.

So I gave him the biggest of the hugs and wished that all the goodness in the universe would enlighten his way. In silence, I prayed for him to come back to my life one day. But only when we can make each other grow again. When we are on the same tune. When the air around us isn't filled up with the unnecessary load of things unsaid.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Meu caos é constituído por pequenas tempestades em copo d'água, uma atrás da outra.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

tres años

Podría describir cómo si hubiera sido ayer ese período de tiempo que en el calendario romano consta como entre el nueve y el diez de febrero del dos mil diez. Sé lo que tenías puesto  porque yo misma lo quité de ti pasado no más que una media hora. Llegué a tu habitación con muchas ganas, eso es lo que más tengo fresco en mi memoria. Y también la canción que me cantaste. Cambiaste "salsa" por "samba" en La Flaca y ya, me ganaste. Bueno, ya me habías ganado un par de meses antes, me ganabas madrugada tras madrugada, mientras hablábamos de todo lo que se podría hablar; del universo, de nosotros. Del universo de nosotros. Y nos besábamos con tanta sed... nos emborrachábamos de tanta saliva compartida. Íbamos al cielo y al infierno a la misma, sin nunca saber equilibrarnos, en verdad creo que éramos la razón para el desbalance que sufríamos. Yo temblaba en tus brazos, te pedía que no me soltara, me daba vértigo la idea de no tener tus manos en vuelta de mi cintura. Tu me mirabas bien fondo en los ojos y descubría secretos que ni siquiera yo me había enterado. Aprendimos uno al otro cada noche, pero esa... ah, esa. En esa noche no hubo los ruidos de afuera. No había ni pasado ni futuro. Solo lo que había en aquel cuarto de luz anaranjada era la materialización de un sentir que no lográbamos explicar. En falta de léxico apropiado, nombramos lo que hubo de amor.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

el amor por mi chamo

Há tempos senti vontade e lhe disse:
- Te amo e não quero que tenhas medo de meu amor. Ele não pertence a ti, nem deseja lhe prender. Ele é meu e seu objetivo é multiplicar-se cada vez mais.
Foi assim que lhe causei um belo vendaval dentro de si. Meu chamo não sabia receber amor assim. Tinha engessado seu conceito de amar. Por alguma razão, sua afetividade vinha recheada de medo.
Desde essa primeira expressão de meu sentir por ele, muito aconteceu; meses se foram, ele mudou-se de continente, eu estive em camas diversas. Tornamo-nos mais cúmplices a cada minuto e a distância física significou quase nada entre nós. Seguimos crescendo juntos, criando espaço um para o outro nos caminhos que trilhamos separados.
Dia desses, voltei a provocar-lhe os nervos. E não é que mesmo tendo provado a verdade contida nesse querer bem, meu gatito ainda age como se fosse escaldado? Depois de ser mimada por ele com palavras doces, lhe agradeci da maneira mais genuína que encontrei:
- Ah, querido... te amo.
- Creio que toda vez que ouvir isso ficarei assim: vermelho como um tomate!
- Pois acostuma-te com meu amor, que não penso em deixar de amar-te tão cedo...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

boneca freak

Boneca, boneca.
Então algum delírio te faz pensar que nesta tua pele de porcelana existem rachaduras... Ah, mas se eu soubesse que este pensamento te tomava a cabeça, já teria contado há tempos que elas são invisíveis para olhos quaisquer que não os teus.
Todas as noites sinto vontade de escutar boa música no teu carro de brinquedo, os vidros abertos deixando entrar um vento que te bagunçaria os cabelos cor de mel. Atravessaria o Plano uma e outra vez se isso significasse mais tempo de escutar tua voz de veludo e teu riso embaraçado.
Foi olhar em teus olhos o que fez dissolver um algo daninho que crescia há pouco dentro de mim. O que outrora desenvolvia-se com força desmedida já não passa de composto orgânico, fazendo com que o que tua presença me causa floresça cada dia mais.
Ando cada dia mais fascinada pela tua beleza (,) esquisita.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

broken pride.

No primeiro escrito deste blog há a explicação para seu nome: surgiu em meio a uma conversa cotidiana com uma grande amiga israelense, logo antes de irmos para a aula. Ela falava sobre a incerteza de um futuro com o namorado do momento, que vivia em outro continente. Disse não saber se ele era o amor de sua vida, mas que estava certa de que ele era o amor de seu agora. Foi uma constatação que me tocou profundamente. Desde então, pensei no amor de maneira análoga a Roberto Freire quando diz: "O amor é tanto, não quanto. Amar é enquanto, portanto. Ponto".
Anos e amores depois, utilizando a tecnologia para mascarar a distância, conversava com uma norueguesa que sempre vivenciou sua afetividade de maneira similar à minha. Neste momento, ambas nos sentíamos um pouco rejeitadas por nossos antigos parceiros e reclamávamos a falta que fazia o calor de seus corpos em noites de chuva.
Perguntei-lhe se o amava. Ela negou. Mudei as palavras, inquiri se ela estava apaixonada. Outra vez a resposta foi negativa. E seguiu:
- O tempo que passávamos juntos era divertido. A parte carnal de nossa relação era nada menos que incrível. Porém nunca me senti muito fascinada pela pessoa que ele é. Por isso não poderia dizer que estou de coração partido. Estou, no máximo, com orgulho ferido.* Mas pense pelo lado bom, melhor ter machucado o orgulho do que o coração...
Foi assim que minha bela amiga nórdica tornou-se a pessoa a colocar em palavras o meu sentir. Quem diria que neste espaço de exploração e pesquisa sobre amor haveria lugar para inquietações do ego... Mas há. E os escritos sobre ele que estiverem contaminados por rancor, saibam, não tem origem no eu que ama. Vem do eu que engatinha em direção à dissolução do ego, que busca encontrar-se cada dia mais com a própria divindade.
Para terminar essa reflexão, lhes conto sobre o que me alegrou nesta conversa: há quilômetros, oceanos e fusos entre eu e minha amiga e ainda assim, a mesma sensação desponta em nós. Ela, uma atéia advinda de um vilarejo norueguês, organizada e responsável, de beleza hollywoodiana e absoluta paixão pela pele negra; eu, uma guria sedenta de espiritualidade da capital do Brasil, com pouco ou nenhum apreço por responsabilidades ou estrutura, de beleza exótica e sério fetiche por olhos cor de mar; nós, umas tantas manhãs, tardes e noites de compartilhamento de vida, de ideias e sonhos... muitos destes parecidos, outros tantos diferentes. De tanto dar-nos uma à outra, tornamo-nos cada dia mais um mesmo ser. É uma conexão tão genuína e forte que nem os dois anos de não nos vermos ao vivo conseguiram dissolver. É, também, um lembrete de que de forma alguma caminho sozinha por esta terra. Até se algum dia decidir meter-me pelas terras gélidas do norte, encontrarei demasiado carinho e muitos colóquios madrugada adentro.

*Originalmente em inglês, as expressões utilizadas foram "broken heart" e "broken pride".

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

"a gente é rascunho de pássaro"

Aconteceu certa noite de nos atrasarmos para a mesma peça. Desde então, não precisei mais de acaso algum para encontrá-lo. Dessa noite em diante, foram ocasos e alvoradas, vinhos e cigarrillos, angústias e alegrias compartilhadas, duas vidas entrelaçando-se organicamente, entrando em eixos que rumam a caminhos similares sem esforço algum.
Encontrei abrigo imediato em seu abraço e no sofá de sua sala. Nos Nerudas pendurados pela parede. No altar da varanda. Já perdi a conta dos teóricos ocidentais e dos pensadores orientais que fomentaram reflexões conjuntas acerca da maneira como desejamos viver a vida. Tampouco teria recibos para os poetas que nos encantaram com seus versos entre nuvens de fumaça.
Numa dessas noites, velas iluminando o quarto com luz alaranjada, An Awesome Wave tocando pela segunda vez seguida, chuva do lado de fora e ele me pedindo cafuné, me dei conta:

- Você acabou com minha possibilidade de ter um relacionamento afetivo com qualquer pessoa que não seja assim, sei lá... você!

Pode ser que nosso estado de lua de mel esteja ludibriando meus sentidos. Encontro-me completamente incapaz de encontrar defeito algum neste ser humano. Sinto cada dia mais vontade de participar de momentos ao seu lado, sejam estes felizes ou desgostosos. Este ser de tranquilidade tão contagiante tornou-se parte de mim. Parte tão integrante (e intrigante) que completa de maneira mais do que bela os diálogos do filme que é minha vida:

- Quero essa tranquilidade... alguém que me dê vontade de passar as noites de segunda-feira escutando boa música na cama.

- Ah, faz isso comigo.
(E me puxou mais para perto de si, fazendo de mim a cucharita de fora de nossa conchinha)

domingo, 20 de janeiro de 2013

sobre mudanças de estação dentro de mim

Há alguns anos li em Orgias, de Luis Fernando Veríssimo, uma das mais belas descrições de feminino que já passou por meu caminho. "As Outonais" não é nenhum clássico da literatura: fala das mulheres e das estações de forma humorada, como se espera do autor. Por alguma razão, no entanto, me marcou aquela adoração da mulher outonal, que me pareceu tão sóbria e um tanto misteriosa. O absoluto oposto da primaveridade de quem vos escreve.
Anos se passaram; mudei de país, sobrevivi a terremotos, descobri a profundidade do amor na língua espanhola, viajei entre montanhas em um ônibus escolar estadunidense reciclado, aprendi a dança indiana de Bollywood, escalei vulcões ativos, consegui um diploma de International Baccalaureate. E voltei à cidade natal. Por vontade própria, voltei a viver na vila onde nasci. De alguma forma, me senti forçada a suprimir em parte o turbilhão de vida que havia bebido num só gole para não causar estranhamento ao vilarejo que presenciou meu primeiro abrir de olhos. Pensei que essa Brasília não suportaria ver sua filha tão diferente.
Isso causou um dilaceramento de algo dentro de mim. Eu caminhava em direção a um Outono de promessas de mais tranquilidade, e tal jornada foi interrompida de maneira tão... insensível. Outro tanto tempo passou até que sentisse força suficiente para mudar o que não me fazia bem. Decidi mudar de estação de vez: algo entre "deixar de adoçar as coisas e não ter medo de andar de bicicleta entre os carros". Vivenciei certos issos e aquilos que me afastaram da Primavera. Eu era quem tinha inventado de ser.
Só que há uns dias me veio uma percepção distinta.
Já não me preocupo com minha estação. Não me ocupo com intentos de encaixar-me em molde X, em molde Y. Agora tanto faz tomar chá preto com limão ou adoçá-lo com mel: é tudo parte de mim. Os mais diversos tipos de sapatos me calçam os pés. De tentar ser outra, me refiz em ser que abrange. Sou um todo, sou tudo. O mais importante disso é que agora compreendo a beleza de ser primaveril. Perdoo-me por ser estabanada, pela falta de regras. Entendo o papel do colorido de minhas pétalas nos dias nublados. E adoro, cada dias mais (!), tanto um bom frege quanto tons de bege.

sábado, 19 de janeiro de 2013

tu est très mignon #1


Não me atrevo a negar: gostei sim de conhecer-te. Desbravar tua timidez e descobrir que tua pele toda é de um mesmo tom etéreo foi uma aventura incrivelmente prazerosa. Fiquei maravilhada com as sensações causadas por nossas intensas trocas de fluidos. Encantei-me com o quão confortável é teu corpo tanto como cobertor quanto como travesseiro.
Pensei em chamar-te para dançar nessa sexta-feira. O sol deu o ar de sua graça durante grande parte da manhã e da tarde, o pôr dele chegou durante uma belíssima prática de Pranayama; nada mais lógico que terminar a noite exausta entre teus lençóis. Só que "a vida é fluida", me disse há tempos minha gueixa. Aconteceu de muito amor brotar em meu caminho durante a longa madrugada que se findou há pouco e faltou ocasião para tuas carícias.
A conclusão a que cheguei é que construí durante estes anos terrestres tantos alicerces, paredes e telhados de amor fraterno que qualquer rascunho de amor afetivo ameaçando entrar na casa desavisadamente não oferece tanto perigo, já que as portas e janelas não abrem com tanta facilidade. Refugiei-me no calor amistoso de uns e outros na certeza de nunca estar só.
Só que amar é multiplicar... e dentro de mim quero que caiba um mundo inteiro. Quero que se abra meu esterno para que nada segure o agigantar-se de meu coração. E quero fazer espaço para que me invadas, quero que tenhamos tempo para vivenciar a delícia desse nós da maneira mais heterodoxa possível.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

I'm wearing this nostalgia like a heavy blanket on a hot summer night. It makes me sweat out all my loving as my heart gets more and more rigid; as stiff and cold as an ice cube. I don't want to live under the impression that these memories are the best things I'll ever be able to experience.