quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

broken pride.

No primeiro escrito deste blog há a explicação para seu nome: surgiu em meio a uma conversa cotidiana com uma grande amiga israelense, logo antes de irmos para a aula. Ela falava sobre a incerteza de um futuro com o namorado do momento, que vivia em outro continente. Disse não saber se ele era o amor de sua vida, mas que estava certa de que ele era o amor de seu agora. Foi uma constatação que me tocou profundamente. Desde então, pensei no amor de maneira análoga a Roberto Freire quando diz: "O amor é tanto, não quanto. Amar é enquanto, portanto. Ponto".
Anos e amores depois, utilizando a tecnologia para mascarar a distância, conversava com uma norueguesa que sempre vivenciou sua afetividade de maneira similar à minha. Neste momento, ambas nos sentíamos um pouco rejeitadas por nossos antigos parceiros e reclamávamos a falta que fazia o calor de seus corpos em noites de chuva.
Perguntei-lhe se o amava. Ela negou. Mudei as palavras, inquiri se ela estava apaixonada. Outra vez a resposta foi negativa. E seguiu:
- O tempo que passávamos juntos era divertido. A parte carnal de nossa relação era nada menos que incrível. Porém nunca me senti muito fascinada pela pessoa que ele é. Por isso não poderia dizer que estou de coração partido. Estou, no máximo, com orgulho ferido.* Mas pense pelo lado bom, melhor ter machucado o orgulho do que o coração...
Foi assim que minha bela amiga nórdica tornou-se a pessoa a colocar em palavras o meu sentir. Quem diria que neste espaço de exploração e pesquisa sobre amor haveria lugar para inquietações do ego... Mas há. E os escritos sobre ele que estiverem contaminados por rancor, saibam, não tem origem no eu que ama. Vem do eu que engatinha em direção à dissolução do ego, que busca encontrar-se cada dia mais com a própria divindade.
Para terminar essa reflexão, lhes conto sobre o que me alegrou nesta conversa: há quilômetros, oceanos e fusos entre eu e minha amiga e ainda assim, a mesma sensação desponta em nós. Ela, uma atéia advinda de um vilarejo norueguês, organizada e responsável, de beleza hollywoodiana e absoluta paixão pela pele negra; eu, uma guria sedenta de espiritualidade da capital do Brasil, com pouco ou nenhum apreço por responsabilidades ou estrutura, de beleza exótica e sério fetiche por olhos cor de mar; nós, umas tantas manhãs, tardes e noites de compartilhamento de vida, de ideias e sonhos... muitos destes parecidos, outros tantos diferentes. De tanto dar-nos uma à outra, tornamo-nos cada dia mais um mesmo ser. É uma conexão tão genuína e forte que nem os dois anos de não nos vermos ao vivo conseguiram dissolver. É, também, um lembrete de que de forma alguma caminho sozinha por esta terra. Até se algum dia decidir meter-me pelas terras gélidas do norte, encontrarei demasiado carinho e muitos colóquios madrugada adentro.

*Originalmente em inglês, as expressões utilizadas foram "broken heart" e "broken pride".

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

"a gente é rascunho de pássaro"

Aconteceu certa noite de nos atrasarmos para a mesma peça. Desde então, não precisei mais de acaso algum para encontrá-lo. Dessa noite em diante, foram ocasos e alvoradas, vinhos e cigarrillos, angústias e alegrias compartilhadas, duas vidas entrelaçando-se organicamente, entrando em eixos que rumam a caminhos similares sem esforço algum.
Encontrei abrigo imediato em seu abraço e no sofá de sua sala. Nos Nerudas pendurados pela parede. No altar da varanda. Já perdi a conta dos teóricos ocidentais e dos pensadores orientais que fomentaram reflexões conjuntas acerca da maneira como desejamos viver a vida. Tampouco teria recibos para os poetas que nos encantaram com seus versos entre nuvens de fumaça.
Numa dessas noites, velas iluminando o quarto com luz alaranjada, An Awesome Wave tocando pela segunda vez seguida, chuva do lado de fora e ele me pedindo cafuné, me dei conta:

- Você acabou com minha possibilidade de ter um relacionamento afetivo com qualquer pessoa que não seja assim, sei lá... você!

Pode ser que nosso estado de lua de mel esteja ludibriando meus sentidos. Encontro-me completamente incapaz de encontrar defeito algum neste ser humano. Sinto cada dia mais vontade de participar de momentos ao seu lado, sejam estes felizes ou desgostosos. Este ser de tranquilidade tão contagiante tornou-se parte de mim. Parte tão integrante (e intrigante) que completa de maneira mais do que bela os diálogos do filme que é minha vida:

- Quero essa tranquilidade... alguém que me dê vontade de passar as noites de segunda-feira escutando boa música na cama.

- Ah, faz isso comigo.
(E me puxou mais para perto de si, fazendo de mim a cucharita de fora de nossa conchinha)

domingo, 20 de janeiro de 2013

sobre mudanças de estação dentro de mim

Há alguns anos li em Orgias, de Luis Fernando Veríssimo, uma das mais belas descrições de feminino que já passou por meu caminho. "As Outonais" não é nenhum clássico da literatura: fala das mulheres e das estações de forma humorada, como se espera do autor. Por alguma razão, no entanto, me marcou aquela adoração da mulher outonal, que me pareceu tão sóbria e um tanto misteriosa. O absoluto oposto da primaveridade de quem vos escreve.
Anos se passaram; mudei de país, sobrevivi a terremotos, descobri a profundidade do amor na língua espanhola, viajei entre montanhas em um ônibus escolar estadunidense reciclado, aprendi a dança indiana de Bollywood, escalei vulcões ativos, consegui um diploma de International Baccalaureate. E voltei à cidade natal. Por vontade própria, voltei a viver na vila onde nasci. De alguma forma, me senti forçada a suprimir em parte o turbilhão de vida que havia bebido num só gole para não causar estranhamento ao vilarejo que presenciou meu primeiro abrir de olhos. Pensei que essa Brasília não suportaria ver sua filha tão diferente.
Isso causou um dilaceramento de algo dentro de mim. Eu caminhava em direção a um Outono de promessas de mais tranquilidade, e tal jornada foi interrompida de maneira tão... insensível. Outro tanto tempo passou até que sentisse força suficiente para mudar o que não me fazia bem. Decidi mudar de estação de vez: algo entre "deixar de adoçar as coisas e não ter medo de andar de bicicleta entre os carros". Vivenciei certos issos e aquilos que me afastaram da Primavera. Eu era quem tinha inventado de ser.
Só que há uns dias me veio uma percepção distinta.
Já não me preocupo com minha estação. Não me ocupo com intentos de encaixar-me em molde X, em molde Y. Agora tanto faz tomar chá preto com limão ou adoçá-lo com mel: é tudo parte de mim. Os mais diversos tipos de sapatos me calçam os pés. De tentar ser outra, me refiz em ser que abrange. Sou um todo, sou tudo. O mais importante disso é que agora compreendo a beleza de ser primaveril. Perdoo-me por ser estabanada, pela falta de regras. Entendo o papel do colorido de minhas pétalas nos dias nublados. E adoro, cada dias mais (!), tanto um bom frege quanto tons de bege.

sábado, 19 de janeiro de 2013

tu est très mignon #1


Não me atrevo a negar: gostei sim de conhecer-te. Desbravar tua timidez e descobrir que tua pele toda é de um mesmo tom etéreo foi uma aventura incrivelmente prazerosa. Fiquei maravilhada com as sensações causadas por nossas intensas trocas de fluidos. Encantei-me com o quão confortável é teu corpo tanto como cobertor quanto como travesseiro.
Pensei em chamar-te para dançar nessa sexta-feira. O sol deu o ar de sua graça durante grande parte da manhã e da tarde, o pôr dele chegou durante uma belíssima prática de Pranayama; nada mais lógico que terminar a noite exausta entre teus lençóis. Só que "a vida é fluida", me disse há tempos minha gueixa. Aconteceu de muito amor brotar em meu caminho durante a longa madrugada que se findou há pouco e faltou ocasião para tuas carícias.
A conclusão a que cheguei é que construí durante estes anos terrestres tantos alicerces, paredes e telhados de amor fraterno que qualquer rascunho de amor afetivo ameaçando entrar na casa desavisadamente não oferece tanto perigo, já que as portas e janelas não abrem com tanta facilidade. Refugiei-me no calor amistoso de uns e outros na certeza de nunca estar só.
Só que amar é multiplicar... e dentro de mim quero que caiba um mundo inteiro. Quero que se abra meu esterno para que nada segure o agigantar-se de meu coração. E quero fazer espaço para que me invadas, quero que tenhamos tempo para vivenciar a delícia desse nós da maneira mais heterodoxa possível.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

I'm wearing this nostalgia like a heavy blanket on a hot summer night. It makes me sweat out all my loving as my heart gets more and more rigid; as stiff and cold as an ice cube. I don't want to live under the impression that these memories are the best things I'll ever be able to experience.