quarta-feira, 30 de maio de 2012

La Clandestina

Acabo de pintar minhas unhas de amarelo com um dos esmaltes daquela coleção que tu me falaste que era super aguada, e tu estavas bem certa mesmo. O único que salva é o que comprei contigo e que tornou-se o esmalte da minha vida. Porém, como ando numas de renegar o de sempre, cá estou com unhas de cor amarelo mijo pós bebedeira e tomando chá verde sem açúcar. Eu perdi o costume de adoçar as coisas. Desde que tu fostes embora houve mudanças significativas na maneira como vivo minha vida. Desde perder o medo de andar de bicicleta entre carros, passando por trabalhar na Bienal até virar a ruiva que sempre tive vontade. Há tanto entre o desimportante e o essencial que nem saberia por onde começar. Tampouco sei se faria sentido listar de maneira linear tudo o que sucedeu, porque o charme de todos os eventos está na sinuosidade da maneira como aconteceram. Tu te lembras do quão habilidosa sou na arte de perverter o real em história pra contar. Mas ah, não foi para isso que me decidi por escrever este relato. Para ser bem sincera, o intuito real se perdeu nas torrentes de pensamentos que me atingem constantemente. Sei que era algo entre o chá e o esmalte, porém é até aí que me chega a lembrança. Agora faz mais sentido dizer algo que eu - e o resto do mundo - deveria ter escutado há anos, antes de jogar meu corpo no mundo: não te esqueças nunca das pegadas que deixas nos caminhos por onde passas. Porque da mesma maneira como lugares, momentos e pessoas se tornam lembranças eternas para ti, tu também te tornarás uma memória recorrente para outrem. Te conto a nascente da reflexão: há um ano e meio mochilei pela América Central com amigos. Em certo ponto da viagem, éramos apenas eu, Maria Alejandra, Roanna e Clara. Decidimos que em nosso primeiro dia juntas, faríamos um passeio em um cânion que ainda era pouco explorado. Se encontra ao norte da Nicarágua e se chama Somoto. Optamos pelo passeio mais longo, cuja média era sete horas. Obviamente extrapolamos este tempo; nos perdíamos em conversas com o guia, em viagens interiores, em jogar o colete salva-vida pro alto e nadar bem fundo no meio daquelas incríveis formações rochosas. Não há uma foto que faça jus àquela beleza, e olha que eu procurei. Bom, o ponto é que passamos o dia inteiro numa natureza praticamente intocada, eu, três amigas e um guia chamado Fausto. Ao fim de nossa jornada, Maria deixou seu e-mail com ele para que nos contasse sobre o futuro de Somoto, sobre sua família e os outros que vivem lá. Hoje, um ano e meio depois, ele lhe escreveu do e-mail de um amigo, perguntando como estávamos. Perguntou-lhe se seguíamos juntas, em que canto do mundo estávamos. Tantos dias, tantos encontros e tantas faces depois, aconteceu de este homem se lembrar de quatro meninas, uma de cada país, que lhe pediram para ser guiadas em um dia qualquer de dezembro de 2010. Estou maravilhada com isto! Me encanta a ideia de que não sou única em minha vontade de não esquecer as trocas que tenho pela vida. Que é realmente troca, não roubo! Que consigo deixar pedaços de mim pelo caminho. E tu também é assim, sabia? Duvido que haja quem esqueça facilmente tua qualidade de hipérbole, hipérbole. Lembra-te disso toda vez que passares por La Clandestina e tomares um chá pensando em mim. Ou quando o pôr do sol for tão bonito que tu tenha que parar e agradecer por estar viva para apreciar tamanha obra de arte. São bem nestas horas que teus trejeitos acabam virando personagens de livros alheios.

Sei que isto está meio sem pé nem cabeça. Creio que assim estou, sem pé nem cabeça. A verdade é que estou muito abalada pela chegada desse e-mail e de outro. Pela não chegada de uma mensagem. E pelos movimentos sísmicos intensos em minha vida.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

um tempo...

Meus escritos andam demasiadamente pessoais. Acho perigoso doar tanto de mim em um espaço como este. E isto é um pedido de desculpas por manter-me distante por algum tempo.