sexta-feira, 30 de março de 2012

sem dormir.

Eu insone vou de zero a amor sem nem perceber. Fabrico contos que nunca chegarão à ponta da caneta, veja lá à vida real. Eu insone sonho mais que dormindo. Vou longe, longe... tão longe que até me sinto sair de mim. Deixo-me ali no morninho da cama e passeio despida de corpo pelos campos floridos da mente, atravessando fronteiras geográficas e temporais. Eu insone não tenho que ou quem me segure. Vou sozinha e livre recorrer o mundo, esquadrinhar pessoas e inventar encontros.

quinta-feira, 29 de março de 2012

antes que te vayas.

Eu não queria soltar sua mão e não era porque serão quatro meses com um oceano literal de distância entre nós. Afinal, são apenas quatro meses. Não queria soltar sua mão porque é deixar ir um momento que me parece tão belo e importante em sua construção... e eu sempre gostei de ver os câmbios tão sutis que ela sofre e a tornam cada dia mais uma mulher outonal. Tenho medo de perder a poesia que sai dela vezes em ondas vezes em garoa. Assusta-me a possibilidade de não mais entender o que seus silêncios significam. E vou sentir falta dos chás e tortas e charlas acerca del amor.
Pero hay búsquedas que una tiene que hacer sola, eu bem sei disso, então sorri ao olhá-la caminhar para longe de mim. Sorri ainda mais vendo as cores que ela deixou nas minhas mãos. E sorrio agora, quando penso no bem que lhe fará uma boa siesta depois do almoço, uma rodada de tapas no fim da tarde e uma dose de flamenco no fim da noite.

sexta-feira, 23 de março de 2012

tudo que vai

Passados meses, às vezes dias, momentos íntimos convertem-se em histórias de mesa de bar.

quinta-feira, 22 de março de 2012

com moderação...

O que começou como encantamento por seus atributos físicos dignos de deus grego entrou num processo de mutação cujo produto final segue um completo mistério para mim. Sem que eu percebesse, estávamos entrelaçados um ao outro energeticamente, nutrindo-nos com olhares que vinham desde bem fundo de nós. E, também sem que eu me desse conta, aquele frisson causado pela beleza de suas superfícies já não era recorrente. Rotulei, então, "desencanto", como foram tantos outros, e contentei-me com a chegada esperada do fim. Só então se revelou para mim um sentir distinto, algo absolutamente inefável que me confundiu em demasia. Percebi que o desejo antes puramente carnal havia aberto espaço para uma vontade possante de... de... descobrir quais carimbos ele tem marcado no passaporte ou quais matérias está fazendo este semestre ou alguma lembrança boba de sua infância. Assim, abriu-se um novo capítulo neste eterno livro que é a descoberta dos amores que se há de viver em uma vida: o amor moderado. E, por incrível que pareça, me assusta mais do que uma paixão arrebatadora. Vou ver como funciona...

quarta-feira, 14 de março de 2012

pegadora

Ela é tão bonita que me cala a boca... logo eu, a mais falastrona entre os tagarelas que conheço. É que ela tem um jeito de chupar o canudinho dessas bebidas doces que toma que me deixa sem graça, porque sei que ela já reparou que eu a encaro descaradamente. E ela dança ao meu lado, eu, já de olhos fechados, só sinto sua presença ali. Que vez ou outra ela chega mais perto e percebo o passear de seus cabelos pelo meu rosto e sentir o cheiro deles causa alvoroço nas borboletas do meu estômago.

E ela me faz rimar no meio da prosa, veja só. Acaba que estar com ela é meio poesia. Ainda terei coragem de convidá-la para tomar um sorvete comigo qualquer dia.

segunda-feira, 12 de março de 2012

"me gustaria mucho que estuvieras aqui para conversar"

Eu queria poder gritar bem alto que te amo, para que meu grito atravessasse os tantos quilômetros que nos separam e entrasse pelas fendas nas paredes do teu quarto. Buracos que eu fiz, não foi tu mesmo quem disse? Que cheguei con un martillo e fiz enormes janelas por onde entra luz e por onde escapas vez ou outra de ti? Pois seria por esses orifícios que meu clamor adentraria e encheria de cores as paredes do teu quarto e desenharia linhas desordenadas que te deixariam louco!

quinta-feira, 8 de março de 2012

noite qualquer

Eu segurava a terceira taça da noite e fumava o segundo cigarro do maço. Era Neruda que estava à minha frente, seu Poema 20 imprimido em letras negras sobre uma parede branca me falavam do amor que acabara. Eu dava goles épicos no vinho tinto que serviam e entre um trago e outro pensava em sair daquele lugar, caminhar vagarosamente por ruas vazias, silenciosas (já sem nenhuma taça de vinho, fumando o terceiro, talvez quarto cigarro), parar em frente ao bloco dele e gritar seu nome. É claro que não estragaria toda a poesia de um momento como esse interfonando. Interfonar. Essa palavra aniquila qualquer dose de magia presente em qualquer conto. Então eu gritaria seu nome na rua de sua casa, sem ao menos ter o que dizer. Pura e simples vontade de trocar uma ideiazinha ou outra com alguém que nunca me desafiou intelectualmente, com alguém que se fazia responsável por deixar minha vida - e eu mesma - mais leve. Mas não foi bem isso o que aconteceu. Esperei e esperei na parada por um ônibus que me deixasse minimamente perto de casa e caminhei, já sem nenhum cigarro e já recuperada do excesso de vinho. Caminhei por ruas agitadas, abarrotadas de carros indo sabe-se lá para onde, levando sabe-se lá quem dentro. Só o que percebia em comum entre eles eram os olhares que lançavam do conforto de seus bancos de couro. Perguntavam-se, nem que por um segundo, o destino daquela jovem perdida de cabelos cor de fogo.

terça-feira, 6 de março de 2012

mi otra vida.

Caminar por los pasillos con él, tomándome una taza de té de manzana y canela con limón. Acostarme a su lado en el anfiteatro y sentir todos lo pelos de mi cuerpo erizándose porque me tocó la mano con la suya. Sentir el olor de su shampoo en mi almohada. Comernos sopa (de las famosas en el pop-art) a las tres de la mañana porque estábamos los dos insomnes. Verlo vestido de esclavo mientras nos servía platos marroquís.

- Pero eso fue en otra vida.
- No fue otra vida, fue antes. Misma vida.

Besarnos en la boca, hacernos el amor.

- Fue mi otra vida.
- Está bien pues.

segunda-feira, 5 de março de 2012

muse fortuite III

Pensei nos nossos passos subindo escadarias quase correndo, enquanto tu declamavas uma canção que reconheci por razões que me fizeram ver ainda mais encanto em ti. Lembro que fazia muito calor, era um desses dias em que o sol fica a pino durante mais tempo do que deveria e tudo era amarelo claro. Tua pele branca contrastava de maneira mística com teus cabelos tão escuros e com teus olhos, teus olhos absolutamente mágicos que sorriam de maneira ao mesmo tempo pueril e sensual. Se há alguém no universo capaz de conter dentro de si todos os paradoxos, este alguém é você.

sexta-feira, 2 de março de 2012

herr L

Eu tive uma relação intensa com um professor de música há uns anos. Era uma amizade forte, nada usual para uma menina de 12, 13 anos. Ele continuou em minha vida até meus 17, quando minha adolescência construiu um grande muro entre nós. Ainda assim, senti que era ele a pessoa certa para escrever a carta de recomendação que me levaria para longe dele, de minha casa, de minha vida.
Estava eu sentada à sua frente, na sala onde me haviam sido injetadas as primeiras doses de filosofia e alemão, e agora ele me olhava e olhava o papel na mesa.

- Você sempre mexeu com coisas sérias - no sentido de perigosas - mas nunca se envolveu (...) Eu esperava algo ruim de você, ainda bem que você direcionou sua coragem para uma coisa boa.

Sorriu.

Ele, vez ou outra, ainda me tira os pés do chão e me roda no ar.

quinta-feira, 1 de março de 2012

the boy who looked like the little prince to me.

We were talking on a dark amphitheater, looking out to the trees that seemed oddly scary at nighttime. He was laying down, his head on my lap as I playfully touched his blonde curls and tried to memorize his face for eternity. He was looking up the whole time, almost not blinking at all and I bet he was somehow trying to read my eyes. His and mine were nothing alike, fact that led us to constant misunderstandings. He was the owner of the lightest blue eyes I had seen so far, and they were sweet, gentle, caring... I could even add lost to this list, since he was constantly on the search of something. Mine were dark brown gipsy eyes, always staring at an alternative north; I had a compass of my own and it would at all times lead me exactly where I needed to be at that very moment. My self-assurance always scared him out so badly that he'd flee whenever I got too close. But not that one night, not when he felt so safe in my arms.

(...)

mail me

My mail box is constantly bombed with news from elsewhere. Postcards arrive and leave like trains in stations... it makes me feel like time is not going as fast as it actually is. It prevents me from thinking that I'm wasting my life. After all, there is a constant flow of love to prove me that at least this I'm doing right.

muse fortuite II

Volte.
Ando querendo misturar teu encanto azul na aquarela de minha vida.
Não digo para mim, digo comigo; de qualquer forma, venha.
Com teus livros, com tua fala pomposa, com teu fazer-me pensar incessantemente.
Traga contigo tudo o que me eleva e enerva em ti.
Traga contigo todas as dualidades que exploramos tão belamente juntos.
Não te necessito.
Te desejo.
Desejo uma dose imediata do que me causa estar na tua presença.