quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

sete dias

Agora que não durmo mais contigo, ando dormindo com Caetano. Nosso romance começou bem naquela quarta-feira quando eu lhe disse adeus e você não me pediu que ficasse. Começou depois que você fez questão de causar toda uma tormenta em minha cabeça. Lembro que eu pegava minha bolsa e meu casaco nos ganchinhos da parede daquela sala na qual não saberei mais entrar, porque para sempre carregará o peso de ser o último lugar onde eu estava contigo e você estava comigo e éramos os dois um do outro. E foi lá que ele me ganhou, desacelerando meu coração com seu cantar.
A verdade é que não me recordo qual era a canção que tocava no momento... sei que era daquela fita cassete que dava pau toda hora e nos fazia interromper a conversa de tempo em tempo para clicar no auto-reverse; por isso tenho certeza que é uma das antigas. É possível que seja O Quereres... mas devo admitir que talvez pense nesta porque ela expressa a intensidade do querer que me causava estar contigo. De qualquer maneira, foi assim mesmo que aconteceu: tocava Caetano, eu lhe disse adeus e você não pediu que eu ficasse. Desde então, You Don't Know Me virou minha canção de ninar e meu último pensamento antes de cair nos braços de Morfeu é "laia ladaia sabadana Ave Maria" logo depois de pensar que é fato que não tomaste tempo para me conhecer, nem eu a ti. E assim durmo um sono agitado para acordar com uma puta vontade de "botar fogo neste apartamento"! Se eu te dissesse, tu não acreditarias... e se acreditasses, irias bem para longe de tanto medo - como, de fato, o fez. Aliás, acho que foi bem culpa deste teu não entender nada que te afastou de mim. Te faltou compreender que eu queria te levar comigo quando fosse ir-me embora, dar o fora...
Provavelmente nunca passará pela tua mente o que desencadeou a escritura deste desabafo. É bem capaz de que nunca chegues perto deste texto nesta vida. Porém creio importante, para que conste nos autos, como foi que me surgiram estes devaneios tropicalistas na cabeça. O que começou a tocar agora mesmo, durante minha tentativa de colocar ordem no universo começando pelo meu quarto, foi Zii e Zie. Me peguei segurando o telefone durante muito tempo, olhando para o nada, sem sequer notar que os raios de sol que passavam pelas frestas da cortina me queimavam o braço. E foi necessário ser bombardeada pelos verbos no pretérito perfeito de Perdeu para me dar conta de que foi neste mesmo pretérito que ficou o nós. Ficou antes de eu lhe dizer adeus e você não pedir pra eu ficar. Por isso nem te liguei. Por isso você nem me ligou. E "o sol se pôs, depois nasceu e nada aconteceu".

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