sábado, 27 de agosto de 2011

ipê

"O ipê dá flor na seca"
Foi meu primeiro pensamento da manhã.
Pensei nessas árvores tão brasilienses. Mais que isso até... tão candangas.

Já mais tarde, num zebrinha, enquanto esperávamos que o sinal da 15 norte se abrisse para os veículos, me peguei encarando uma dessas árvores magrelas da W3. Lá estava ela, nua e retorcida. Do seu galho mais alto, uma única flor amarela orgulhosamente triunfava sobre a soberana aridez do cerrado em mês de agosto.

Lhe olhei tempo suficiente para começar a ver meu reflexo no vidro e me dei conta de olhava a mim mesma o tempo todo. O pensamento agora era:

"Sou uma árvore do cerrado"
Pensei na minha beleza nada óbvia, constantemente classificada como exótica. Pensei em todos os retorcimentos da minha personalidade, nos vícios e nas (talvez nem tão) ligeiras falhas de caráter. Pensei no mau humor.

"Sou um ipê do cerrado, que dá flores quando quer. Que dá flores quando tudo em volta é poeira, é secura, é sangue saindo do nariz. Que mostra suas belas cores só quando convém contrastar com o tédio, com a rotina. Sou um ipê do cerrado. Talvez seja hora de florescer. De colorir minha vida."

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

só o amor sabe os seus...

Creio que se há pouco tempo tentasse raspar com uma colher ainda encontraria vestígios do nosso amor. Aquele restinho bom que gruda na panela, que tem um sabor diferente de todo o resto. Hoje, em compensação, penso que nem isso temos mais. E lembro do poeta que já disse:

"O amor é a coisa mais triste quando se desfaz".

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

P.O. Box

Jamás podría ser original al hablar de lo que me provoca el amor. Puede ser culpa de las numerosas películas de Hollywood que he visto en toda mi vida o de los cuentos de hadas y sus promesas de príncipes azules. El punto es que todo que me ocurre es demasiado cliché, demasiado lugar común. Así mismo, no podré dormir esta noche si no vuelvo sentimiento en palabra.
Lo que pasó fue que me llegó una postal de un país muy, muy lejos. Me llegó esta postal justo cuando volví de una obra que me dejó nostálgica como hace mucho tiempo no me sentía. El universo tiene esa manía de hacer unas bromas que no son tan chistosas... Bueno. Yo la leí mientras escuchaba nuestra canción, la que le prometí siempre pensarla cuando escuchare. La leí y fui capaz de imaginar su entonación, sus pausas... su abrazo al final.
En esto momento, me vino el siguiente pensamiento: a cada carta que recibo, me voy llenando más y más y cuando siento que estoy a punto de reventar... no me reviento. Más que eso: descubro que aún hay mucho espacio, pero lo único que puede entrar es amor. Solo hay campo en mí para este sentimiento tan fuerte, tan complejo, tan... inefable.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

pensamentos de parapeito.

Às vezes me pergunto como seria sentar no parapeito da janela de um prédio bem alto, desses que não se pode construir em Brasília. Penso como seria a sensação do vento batendo com doce violência nas minhas bochechas, desgrenhando meu cabelo; eu riria da peraltice desse vento criança. Imagino como seria ter os pés suspensos sobre as cabeças e os pensamentos de todo ser pensante. Estar no topo do mundo e ter certeza de que nem o mais estrondoso dos meus gritos seria ouvido.
Aí a próxima imagem que me vem à mente é do meu corpo deslizando para baixo, rápido e devagar - paradoxo óbvio já que a gravidade me faria cair depressa mas a iminência da morte tornaria tempo uma medida inútil. Meu vestido de flores deixaria que o mundo visse o que todos tentam esconder. Os espectadores recatados de minha queda pensariam "que garota mais sem vergonha!", esquecendo-se até que o impacto daquele tombo importa muito mais do que suas ideiazinhas pudicas.
Por fim, vejo meu corpo no chão. Sem sangue, só flores. Vejo uns curiosos formarem um círculo à minha volta, todos surpresos pela falta de sangue, excesso de flores. Vejo de camarote a um mundo ao qual já não pertenço mais. A nostalgia apagaria todo o horror do que eu havia deixado para trás por vontade própria. Me depararia finalmente com o mundo perfeito. Sem guerras mundiais, nucleares, civis. Uma abundancia inimaginável de flora para todos os lados. Assim seria: sem sangue, só flores.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

guardanapo de boteco.

Aproveitava estes momentos de alvoroço alheio e paz interior para notar a movimentação das pessoas à minha volta, seus trejeitos, seus sotaques, o tom de suas vozes.
Reparei nela colocar a mão sobre a mão dele. Reparei de novo, de novo, de novo e nisso fiquei até que ele finalmente tirasse a mão de lá. Reparei no doce que ele é não só comigo, mas com qualquer transeunte que por acaso cruze seu caminho. Reparei que o que eu sentia se esvaia pouco a pouco, se dissolvia no ar como a fumaça de seu cigarro.

sábado, 13 de agosto de 2011

Em seu prato, um bolo de chocolate com morango com o qual ela se deliciava fechando levemente seus olhos de sansei. No meu, o tranche de morango que foi minha comida preferida por mais tempo do que posso lembrar, mas me anda desapontando ultimamente.
Eu lhe implorava que me desse uma direção, uma luz que fosse para o que eu simplesmente não sei. Ela abstraía de minhas perguntas tortuosas, absorta no sabor que desejava desde o momento em que pôs seus pezinhos no meu quarto.
Lhe dizia minhas aflições em listas: "tenho medo!", "quero ele!", "preciso ir embora!". Ela me escutava com um projeto de sorriso no rosto, e tenho absoluta certeza de que não ouvia uma só palavra do que eu dizia, maldito bolo de chocolate!
Até que explodi em falar de amor. Me conhecendo há quase uma década, ela bem sabe de minha atração magnética por drama. Meu encanto por amores platônicos. Minha mania de terminar relacionamentos unilaterais.
Pois lhe disse que estava cansada disso, de tanto alvoroço o tempo todo. Que o que quero agora é um espelho d'água como o que vi naquela reportagem sobre a Patagônia mais cedo. Que já não quero mais saber de mares em dia de ressaca...
Ela me olhou e disse "Não quer não. Te aborreceria em pouco tempo. Você é sagitariana". E continuou comendo seu bolo, ainda na metade.
Pensei no quanto necessitava de sua presença em minha vida... porque vez ou outra um sonhador crônico precisa de alguém para lhe tirar do universo da ilusão.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

dom

É muito estranho...
Em tempos como este sinto que escrever me drena a vida pouco a pouco.

dolores y adioses.

Já quase se acaba o verão no norte. Significa que começam as aulas nas universidades estadounidenses onde há um tempo me via ingressando - Class of 2015!
Porém, a vida nos leva por caminhos alheios às nossas vontades, para o bem e para o mal. E por isso, por casualidade ou destino ou qualquer que seja a razão, aqui estou: na capital do meu país, acompanhando a partida de muitos dos amores da minha vida para a terra do Tio Sam. Pensando se foi mesmo a melhor ideia não ocupar aquele lugar que me foi oferecido na Simmons College. O que foi que me assustou tanto em Boston? O que foi que me tirou totalmente o desejo de ir pal norte?
Mas não foi isso que acendeu meu pavio literário agora mesmo. Foi ler com muitas lágrimas nos olhos à nota de despedida que minha bela amiga chilena escreveu desde o aeroporto de Santigo que me causou toda uma tormenta sentimental.
Sinto saudade constantemente, se tornou parte de mim no momento em que deixei Brasília pela primeira vez. O que acontece é que tem dias que essa saudade começa a sair por todos os orifícios do meu corpo, boca, olhos, nariz... por todos os poros, células, por todo lugar de onde saudade pode sair! E eu começo a me afogar em agonia, confusão, medo. E esses sentimentos claustrofóbicos me impedem de ver as inúmeras opções que o futuro me apresenta e... AHHH!
Assim estou agora: super-dooper-uber desassossegada, me sentindo a mais inútil das pessoas, completamente assustada com a ideia de ser uma loser para todo o sempre.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

que eu sou cheia de porquês.

Pode-se dizer que sou uma pessoa impulsiva. Ainda assim, agindo de maneira deveras impetuosa constantemente, teria a habilidade de fornecer pelo menos um motivo para ação X. É que me perturba a ausência de explicação. Sempre fui perita em interpretação de texto. Sou capaz de passar horas e horas tentando colocar sentido até no que foi dito sem pensar. Mas isso é problema meu, não? E não quero que seja esse um espaço de exercício do meu narcisismo. Quero manifestar o que o mundo me causa. Me entende?
Para ilustrar melhor, aqui vai uma imagem que sempre me pareceu muito significativa. Sabe quando você olha alguém nos olhos bem de perto? Tão perto que é possível ver sua própria imagem na pupila alheia? Então, é mais ou menos isso. Ao jogar palavras ao vento, estou devolvendo ao mundo as impressões que ele deixa em mim. Em vez de apenas olhar o acontecer da vida, dos momentos, dos acasos, quero que o universo se digne a olhar-me de volta, de perto, a ponto de se ver no negro da minha mirada.
E é por isso que eu sinto necessidade de escrever: para que tamanha imensidão não simplesmente transborde de dentro de mim, mas tome forma e se transforme em algo mais belo.
Bom, também vejo a necessidade de explicar um algo mais sobre este blog: seu nome.
O amor do meu agora é uma expressão que escutei pela primeira vez saindo do quarto compartilhado por uma israelita e uma norueguesa no campus de um colégio internacional na Costa Rica. Falávamos de amor, eu e a menina de israel, já atrasadas para a aula. Lhe perguntei se ela achava que o namoro à longa distância com seu namorado alemão duraria e ela não soube responder. Lhe perguntei se ela achava que ele era o amor de sua vida. Ela pensou um pouco e, enquanto trancava a porta, me disse meio sem pensar que "talvez ele não seja o amor da minha vida, mas é o amor do meu agora".
Essa frase me pareceu muito curiosa porque todo o amor que havia sentido, no momento em que senti, tinha gosto de para sempre. Nunca havia concebido a possibilidade de amar alguém e ao mesmo tempo sentir que aquele sentimento poderia se extinguir, ou transformar-se em algumoutro.
Precisei de muitos adeuses para perceber a beleza não-óbvia desse conceito de "amor do meu agora"; de muitas mudanças para compreender que a iminência do fim não deve tornar algo menos valioso do que de fato é, até porque tudo na vida tem fim...
Com isso em mente, tento acordar todos os dias com disposição para receber de braços abertos o que quer que me seja designado pelo universo.
Okay, that's bullshit. Não acredite nas últimas linhas que escrevi.
A verdade é que estou em constante busca pelo que não tenho. Um dos maiores desafios da minha vida é apreciar o já. Porém, genuinamente busco maneiras de não deixar a beleza do imediato escorrer pelos meus dedos. E é por isso que escreverei sobre os amores do meu agora: desejos, sensações, pensamentos. Tudo.