terça-feira, 31 de janeiro de 2012

sur ma muse fortuite

É que ele me causa uma inspiração tão peculiar que não me parece possível transformá-lo em prosa ou poesia.

Um dia,

palavreá-lo-ei.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

muse fortuite I

Ele me apareceu por primeira vez na madrugada de um dia qualquer, no meio de uma conversa na cozinha da casa dos meus pais. Tomávamos chá de maçã com canela, eu e una niña de mi pasado, e entre uma história e outra, seu nome surgiu. Depois disso sua existência se fez notável para mim na primeira vez que fugi dessa mesma casa. Aproveitando-me de sua ausência, fiz minha sua cama. Pude sentir toda sua energia cigana ao revirar-me no meio da noite, sem poder dormir, como se seus lençóis precisassem contar-me uma história ou duas.
Foi somente na terceira tentativa do acaso que, de fato, nossas vidas se cruzaram. A fuga dessa vez foi anunciada, mas não menos litigiosa. Lembro-me que eu lia Cortázar e almejava saber o que seria dos desencontros entre Oliveira e a Maga, e entre eu e meu chamo. Estava tão absorta que me tirou completamente o equilíbrio quando ele sentou-se ao meu lado. Sua chegada foi uma onda de encanto azul que não me deixou opção alguma que não render-me à doce violência de seu rebentar na costa.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

verde céu, prata lua.

Apaixonei-me pela crônica quando escrever sobre o cotidiano era escrever sobre um sonho. A vida era todo um espetáculo utópico; era subir colinas para ver nascer a maior lua em treze anos, cantar parabéns à meia noite no anfiteatro para um libanês aniversariante ou me perder na capital do mais rico (economicamente e só) país centroamericano.

Certa vez passamos toda uma tarde assistindo aos filmes mais piegas que se pode imaginar. Éramos eu, uma espanhola, uma norueguesa e uma israelense. Uma frase de Nothing Hill nos encantou muito profundamente. Foi a definição dada pelo mocinho ao seu encontro com a mocinha: "Surreal, but nice."

Surreal, mas agradável.

Deste momento em diante, decidimos que não faria sentido algum fazer qualquer intento de descrever nossa experiência nos últimos anos. Sempre que perguntadas, daríamos como resposta "surreal, but nice." E ter como rotina o surreal me fez infinitamente feliz pelo tempo que durou.

Então acabou-se o que era doce e estava eu de volta à cidade de onde havia fugido dois anos antes. Estava eu de volta aos mesmos cafés e clubes e camas. De volta à bucólica capital do país que orgulhosamente representei enquanto vivia como estrangeira.

Senti minha luz desvanecer pouco a pouco e logo me tornei cinza. Cor de cinza e cinza ao vento. Cinza, resto do que queimou. Cinza nada. Eu nada. Eu cinza. Eu sem tesão pelo cotidiano banal de garota planopilotense, sem inspiração.

Até que um dia o sol durou até depois das oito e meia da noite e a lua nasceu enorme no céu dessa Brasília. Foi este o dia no qual me dei conta da beleza que andava passando despercebida diante dos meus olhos. A beleza que há no fim de cada dia vivido.

Imediatamente voltei a me relacionar amorosamente com o agora.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

chá, chai e corrente.

- É que a vida é fluida, B. Não dá para colocar pontos finais...

Aconteceu numa dessas noites quando saímos para falar de um dos tópicos mais abordados em minhas reflexões: o amor. Comia um croissant de queijo e ela deleitava-se com uma daquelas tortas de chocolate que a fazem esquecer que estamos discutindo assuntos sérios, que daquele encontro pode sair a cura para todos os males do coração. Para ela, não há relacionamento mais importante que o do morango com o brigadeiro.

No vai e vem de nossos devaneios, lhe falei de minha necessidade de finais absolutos para que pudesse recomeçar. Ela me tirou as ilusões assim, sem meias palavras. Deixou-me nada menos que desesperada, morrendo de medo de ficar presa para sempre numa rede infinita de histórias inacabadas.

Pensamos em tomar chás para variar o lado gastronômico do encontro. As duas opções eram um chá preto com laranja e um chai aromático de frutas. Pedimos ambos, com a intenção de compartilhar - e também para que não precisássemos passar pelo martírio que é tomar decisões. Ao chegar com as bebidas, sem nem perguntar, a garçonete simplesmente colocou o frugal à minha frente, o negro à frente de minha companheira de dialética.

Enquanto tomava meu doce, doce chá, pensei que talvez a ideia de não-fins não fosse tão monstruosa. Talvez faça mesmo bem para a saúde deixar abertas algumas janelas do passado para arejar. Talvez o doentio seja tentar enjaular recordações e enviá-las em um navio para terras distantes. A adoção dessa nova perspectiva e o calor do chai me envolveram essa noite.

Pena que o sentimento não perdurou. Logo voltei à minha obsessão por finais definitivos, por palavras que marcassem que já não há. Continuei também a sofrer ataques de incerteza e angústia que tratava de curar com torrenciais crises de choro e automedicação alcoólica.

Foi uma carta de longe que me sanou as dores. Uma carta em espanhol sulamericano desde um país centroamericano. E não foi preciso nada mais do que apenas me recordar de um passado não tão distante para que tivesse um dos momentos de maior discernimento.

- Não é a vida que é fluida, meu doce - eu diria - o amor sim o é. O amor tem essa incrível capacidade da água de se converter em diferentes estados dependendo das condições do ambiente. E é essa mutabilidade do amor que faz com que não haja rompimentos definitivos ou paixões eternas.

Quando nossas bebidas chegaram, provamos de cada xícara e foi óbvio o encantamento que sentimos pelas que haviam sido colocadas com perícia científica pela garçonete. Desde o cheiro, passando pela cor e finalmente o gosto... era como se cada receita tivesse sido preparada sob medida. Havia em meu copo o doce de minha ingenuidade perante o viver. Havia em seu copo o sabor amargo das pedras com as quais ela construiu as muralhas em volta de si.

A verdade é que falamos da mesma coisa, eu e ela. Mas não se pode pedir a uma garota que toma chá de frutas a racionalidade, a linearidade, a clareza da que toma chá preto.

jogando tudo fora II

Ele sentou-se na cama de onde eu não desejava sair durante todo o fim de semana. Perguntou-me com ensaiado interesse sobre o meu sentir, sobre o meu amor, sobre o meu pensar. Respondi-lhe com um par de de superficialidades que lhe saciariam a curiosidade ou lhe abateriam a culpa - qualquer que fosse a razão daquela quase demonstração de carinho. Não nos olhamos nos olhos. Seu foco estava na tangerina que ele abria vagarosamente. Meu foco estava num postal que acabara de chegar desde um frio país europeu. Já não somos mais companheiros, parceiros, cúmplices. Nos assemelhamos mais à poeira que sobe na estrada de terra depois da travessia de um automóvel... uma incômoda lembrança do que passou.

esclarecimento.

Viver de arte é cometer absurdos para sempre ter sobre o que escrever.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

onde está o sol?

Não se pode tomar chá com muito açúcar nem comer guacamole com muito sal. Não se pode amar até a morte nem viver fugindo do amor. Não se pode passar tanto dias sem ver a luz do sol ao despertar-se pela manhã.
Já não podia mais olhar pela janela e ver o branco do prédio ao lado perder-se no branco das nuvens que tomaram o céu há semanas. Se ao menos o dia estivesse acinzentado, se houvesse barulho de chuva e cheiro de terra molhada... ah, seria gostoso viver assim. Só que o dia estava branco. Absolutamente branco. O barulho de uma construção por perto me entrava pelos ouvidos sem cessar, o clima estava abafado, sufocante; o dia branco!
Tranquei as portas, fechei as janelas, cerrei as cortinas. Abriguei-me no refúgio de meu sono decidida a sair dali apenas quando o dia não estivesse tão odioso. E por ali fiquei horas, ora lendo ora escrevendo poesia indignada, cartas de amores distantes, crônicas do que já se foi. Fiquei ali, com meu coração apertado, pensando "que vida curta!" depois de receber uma trágica notícia.
Foi de um instante a outro que as cores do quarto mudaram. Um amarelo claro invadiu tudo ao entrar por um pedacinho de janela descoberta pela cortina. Foi tão rápido e ainda assim vi tudo em câmera lenta: os desenhos ao lado de minha cama, a parede ao lado da cama vazia, o armário embutido... de repente todos eles tinha nuances de amarelo em si. Senti tamanha euforia que só pensei em agarrar as cortinas, empurrá-las para fora do meu caminho de luz.
Me faltou tempo para tal. O raio de alegria não passava de um buraquinho no meio daquela multidão de nuvens que insistem em continuar colocando-se entre o sol e minha pessoa. A alva iluminação escassa estava de volta e meu mau-humor também.

to Sarah Kay.

(...)


I just wanted you to know that you've inspired me to take my writings out for a walk. They spent way too much time inside journals, notebooks, word files. They could use some fresh air.

memórias de meu chamo.

Nos conhecíamos de vista, eu e ele, porque meu quarto era ao lado da porta da residência à qual ele visitava com frequencia. Nos conhecíamos de vista e não tínhamos a mínima pretensão de tornarmo-nos amigos, a garota que andava de sutiã pela casa e o garoto que só usava listras. Nos conhecíamos de vista e não havia nada que nos fizesse pensar, a guria que tinha o boteco mais próximo como segunda casa e o guri que não saía na sexta à noite, que teríamos vida em comum, coisas a compartilhar. Nos víamos, nos saudávamos à distância e seguíamos nossos caminhos.
Foi do meu tédio que surgiu nossa amizade. Fui fazer um chá na cozinha e lá estava ele, em seu computador, na mesa da cozinha. Coloquei a água no fogo e lhe toquei os ombros como se fôssemos íntimos. Senti-o eriçar-se, morrendo de vergonha. Segurei o riso e lhe falei em espanhol, lhe perguntei disso e daquilo, e quando a água atingiu seu ponto de ebulição já havia carinho entre nós suficiente para gerar sorrisos em soldados em campo de batalha. Foi bem assim que aconteceu.
Posso dizer que nosso amor cresceu a passos lentos, passos estes que dávamos por corredores abertos em noites frescas de outono. Passávamos horas e mais horas descobrindo com sede sôfrega um ao outro. Nunca descobri o motivo, mas a verdade é que comecei a precisar de uma dose noturna dos encantos dele para sobreviver ao dia seguinte, e provavelmente o mesmo aconteceu a ele. E na cadência de nossos passos, compusemos nosso tango.
(...)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

do dia no qual minha aula foi cancelada por motivos obscuros.

Um dia acordei sem vontade de ter aula de direção. É que dirigir nunca esteve no meu hall de Coisas Que Me Encantariam Aprender. Na verdade, esteve mais no de Coisas Que Nunca Faria Caso Tivesse Plata Para Tal. Porém, não tenho plata para tal e aos 20 anos fui obrigada a tomar aulas de direção.
No dia supracitado quis com muito ardor não ter aula. Tentei não desejar o mal à instrutora. Tentei e tentei e não consegui, foi mais forte que eu. E a pobre da instrutora, ai ai ai... teve uma indigestão das brabas, daquelas que te fazem desejar a morte à um sofrimento intenso assim. Isso foi ela que me contou na aula seguinte.
Quando ela entrou de férias, me coube ter aulas com um negão carioca que me fazia escutar os sambas do Carnaval 2012 da Sapucaí e tinha em seu retrovisor patuás de tudo que era religião, brasileiras e estrangeiras.
- São presentes de ex-alunos. Quem sou eu pra não acreditar na força de cada um destes elementos? Deixo tudo aí.
E aí veio novamente aquela vontade de não ter aula; chovia e dirigir na chuva, sabe como é, né? Né? Né. Não queria, não queria, não queria. Sentei no pilotis do bloco, agradecendo aos céus por cada carro que não era um Pálio, não era vermelho e não tinha AUTO-ESCOLA escrito em negro sobre um fundo amarelo. Ainda lutava contra meu impulso de desejar o mal ao próximo, mas às vezes esse moléstia se faz demasiadamente intensa em mim.
Vinte minutos de atraso e subi triunfante de volta à casa. Já com o telefone na mão, pronta para ligar para a tal auto-escola e remarcar minha aula, ouvi a buzina do temeroso carro. Pálio, vermelho, AUTO-ESCOLA.
Peguei minha bolsa, meu casaco, pus de volta os sapatos de dirigir. Coloquei a chave na porta e girei, desolada. E ela parou, ficou presa. Presa a chave na porta, presa eu ao apartamento. Girei para todas as direções possíveis e nada dela se mexer. Nessa hora o senhor já havia interfonado, avisado de sua presença à minha espera. À minha espera, à minha espera... estava eu à tua espera durante os últimos vinte minutos!
Toda a situação me pareceu um tanto quanto engraçada. Ele falando no celular - como sempre - debaixo do meu bloco. Eu não conseguindo pensar em nenhuma outra solução que não chamar o Super-Homem para me resgatar - que seja subentendido que o tal Super-Homem é meu pai. A chuva caindo cada vez mais forte.
Pensei que o universo é engraçado, que ele encontra maneiras muito únicas de nos ensinar lições. Pensei que a energia do querer é muito mais forte do que nos apetece acreditar. Pensei que só é realmente forte quem sabe trabalhar essa energia a seu favor - às vezes carregando consigo quantos patuás couberem em sua bolsa ou retrovisor.

domingo, 8 de janeiro de 2012

estranhas endorfinas

Desfez-se o nó em minha garganta.
Acalmou-se a taquicardia.

Me dizem volúvel.

Eu digo não sei.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

jogando tudo fora I

- Seus livros ainda estão nas prateleiras da parede, perfeitamente desalinhados. Suas contas se espalham pela mesinha do telefone, algumas abertas. Suas fotos de família seguem ali, onde ele nunca precisaria vê-las. Elas sempre serviram para que os visitantes presumissem que ele tivesse qualquer coisa batendo dentro do peito. A verdade é que tudo continua absolutamente no mesmo lugar onde estiveram nos últimos anos.

- E o que te faz pensar que ele foi embora?

- Minha escova de dentes dormiu sozinha noite passada.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

estive aqui, mas estive longe.

São quatro da manhã e eu escuto o novo single do The XX... e eu não deveria estar pensando em você. Na verdade, The XX me traz memórias de um amor outro, de uma época onde nem imaginei que estaria eu naquele ônibus de merda que me levou pra'quela cidade praiana onde te conheci. Me traz memórias de um amor que nasceu, viveu e morr... e vive platônico até o dia de hoje. O engraçado desse amor é que ele existe de ambos os lados, mas o destino, o acaso, o universo ou todos eles juntos sempre trataram de mantê-lo num plano tão absurdo que ele nunca teve chance de acontecer. Bom, isso até aquele dia quando fechei de vez minhas malas e chorei o choro mais doído da vida. Ele veio me abraçar e foi a última vez que senti seu cheiro tão seu, que costumava sentir toda vez que abria seu quarto pra falar de qualquer coisa que fizesse parar o tempo. Naquela tarde eu o desconcertei tanto com meu pranto que ele teve que me beijar para me calar. Nunca mais falamos sobre isso.
Nossa, The XX também me lembra uma outra insinuação de amor. De uma e outra noite quando comi cerejas e tomei rum com um garoto de beleza mística que muito me cativou. De ouvi-lo dizer que o protagonista de The Catcher in the Rye tinha características em comum com ele. De ouvir suas histórias da Índia e da Bélgica. Me lembro de sentir borboletas no estômago quando ele disse "hey, can I come over to get XX songs? I really like them". Oh, como não me sai da memória a primeira vez que me deparei com os olhos mais azuis... É que chovia e os pingos gelados me estavam quase ferindo a pele, eu só queria entrar de novo no táxi vermelho que me levaria para casa. Mas eu o olhei e por tanto tempo desejei continuar naquele olhar de olhos para que pudesse guardar para sempre todos os traços de seu rosto, as marcas em sua pele, as nuances de seu cabelo.
The XX me remete a lugares tão longes, tão guardados dentro de mim. E ainda assim, nesta noite de verão, escuto The XX e lembro de uma lembrança não tão longínqua, não tão passado quanto as contadas anteriormente. Faz-me pensar em ti e no teu cabelo não cortado. Faz-me pensar que eu queria te abraçar mais forte e dizer que me faz falta passar tempo na tua cama. Sei lá, me faz pensar que... Sei lá.

PS.: escrito sob efeito de coração partido e álcool. Não foi nem será revisado. Tampouco será excluído, posto que é fruto de um sentir intenso que não deve ser ignorado.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

california dream.

Real happiness would be going to the beach with you, lover, those stunning white sand beaches you always told me about. We would run to the shoreline and just stand there as the smell of the ocean would get us drunk and the beauty of the moment would get us high. The sun would make you frown a bit, just enough to make those little wrinkles show around your eyes. And then you would look at me and smile, lover, and then you would take my hand and run towards the sea. We would stop for a while once the water touched our feet and we would run again. It didn't really matter we still had our clothes on. It didn't really matter we'd have to spend the rest of the day all soaked and salty. It didn't really matter we'd get the sits of your convertible wet. Nothing mattered more than making sure every minute we spent together was something marvelous to remember later.

feliz amor velho.

Eu queria que este sentir intensamente não se fizesse tão palpável como aconteceu durante todo o dia de hoje. Queria não estar a ponto de desabar em prantos cada vez que mostrassem como foi a queima de fogos de fim de ano em diferentes capitais do mundo. Desejo mais do que nunca que o mundo torne-se a Pangeia de milhões de anos atrás. Saudade me dói como há muito não doía.