quarta-feira, 25 de julho de 2012

meu café frio e um sol de meio dia.


Na minha frente, uma página branca de Word e na minha cabeça o mundo inteiro. O mundo inteiro e nada se misturam e acabam por se converter em um mesmo que. E a página continua branca.
Voam ideias no ar ao meu redor, mas não consigo segurá-las. É imensuravelmente difícil ser coerente, linear, fazer sentido. Está fora do meu alcance escrever o que não sou. E o que mais não sou na vida é coerente. Linear. O que menos faço na vida é sentido.
(abril de 2012)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Diana,

tô tomando chá de laranja e especiarias adoçado com mel, como se me tornasse a antiga eu novamente. Mesmo que apenas pelo espaço de tempo que se leva para tomar uma xícara de chá. Ontem à noite choveu em Brasília, imagina o céu caindo em julho neste cerrado tão seco. Nem vi acontecer. Só vi os resquícios que a precipitação deixou no asfalto. Minhas paixonites crescem exponencialmente, como se amor fosse consequência imediata de um olhar mais fundo nos olhos. E quando estou segura de que já não tenho mais coração pra abrigar tanto amor, eis que mais alguém faz espaço ali dentro. É minha sina amar demais. É minha sorte também.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

salvação

São curiosos os pensamentos que surgem em caminhadas solitárias. É como se as milhares de experiências pelas quais passamos formem uma costura e finalmente façam sentido em meio ao caos que é a vida. Por isso aprecio tanto os momentos que tomo para mim.
O universo me permitiu uma boas horas sozinha na noite de hoje e já no final dela, caminhando em direção ao ponto de ônibus, me lembrei de uma noite em um café brasiliense. Estava com três outras mulheres, todas elas em seus vinte e muitos anos, e falávamos de amor - tópico recorrente em muitas de minhas conversas. Não só de amor mas de buscas, de aspirações no âmbito afetivo.
É necessário dizer que estava atipicamente calada esta noite, desconfortável em compartilhar minhas experiências com a mesa. Estranhamente sentia a impressão de que qualquer coisa que dissesse pareceria tola, que meus escassos vinte anos não me davam bagagem suficiente para acompanhar aquele bate-papo. Ou talvez estivesse distraída demais pelo delicioso sabor do enorme café que pedira já no início da noite. Não saberia dizer bem a razão, mas algo me deixara na posição de observadora da interação alheia.
Entre muitos tópicos discutidos, um deles me deixou bastante pensativa durante muito tempo. Foi bem ele que me voltou à mente na noite de hoje, não mais como questão a ser respondida. Elas falavam do que costumavam buscar em suas relações afetivas há alguns anos e o que buscavam agora.
Bom, foi aos treze anos que comecei a pensar relacionamento. Foi bem ali que surgiu aquele primeiro amor arrebatador cujas características tornam-se parâmetro para vários outros amores até que você finalmente perceber que amor de adolescência é amor de adolescência, e passa. Olhando para trás, passando um por um até aquele mais antigo amado, foi possível perceber um padrão claro.
Muito mais do que o encanto causado pelos atributos físicos ou intelectuais do meu objeto de afeição, era o meu momento que definia o que aconteceria entre nós. E eu, como boa chica Almodóvar, estive constantemente Al Borde de un Ataque de Nervios, o que me levou a sempre procurar salvação no outro.
E perceber isso me fez apreciar muito, muito mais o fato de estar sem ninguém, caminhando sob uma lua inesperadamente grande. Prezei em demasia o fato de que é bem assim que consigo ter os mais poderosos insights da vida. Só assim que posso me salvar.
Hoje, e talvez só por hoje, sou o único amor do meu agora.