sexta-feira, 10 de maio de 2013

não pode doer

(...)

Eu o segurava perto, bem perto de mim para sentir seu corpo inteiro. Na minha cabeça tocava Ne Me Quitte Pas porque a vontade que eu sentia era mesmo essa, de que ele nunca me deixasse, nunca saísse de mim. Nessa hora fazia barulho lá fora: o tráfego dos automóveis, a prosa dos pedestres, "descobri que te amo demais..." em volume elevado saindo de um alto-falante, britadeira trabalhando na reforma de alguma calçada e uma ambulância ligeira encontrando seu caminho por entre os carros. A cidade era só caos lá fora e ainda assim essa desordem não conseguia invadir a atmosfera de paz que criamos naquele quarto. Lá dentro não cabia nada além de nós e o que deixamos fazer parte de nossos pensamentos durante aqueles dias; nossa vida pregressa e nossos sonhos futuros, ideais compartilhados e também os dissonantes, memórias. Ali, a infinidade de nossos seres coexistia pacificamente, acomodados de maneira harmoniosa entre armários, janelas e paredes.

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