sábado, 16 de fevereiro de 2013

walk away

Estou há um tempo tentando traduzir walk away  para o português e o mais próximo que consegui foi uma descrição da última vez que o vi.
Dancei até as luzes da festa se acenderem, indicando seu fim. Olhei para trás. Ele estava perto o bastante para olhar-me, mas suficientemente longe para que não houvesse necessidade de cumprimentarmo-nos. Jaqueta de couro, cigarro na boca; sua beleza decadente foi o que me chamou a atenção na primeira vez que o vi e seguiu encantado-me outra e outra vez. Há alguns anos, ao assistir Rebel Without a Cause, pensei em James Dean como o ápice da sensualidade masculina... e no início da vida adulta, finalmente realizei meu capricho adolescente de sair com um homem assim.
Nossos olhos encontraram-se sem querer. Havíamos passado a noite toda delicadamente fugindo um do outro para respeitar nossos campos energéticos, que andam incompatíveis nos últimos tempos. Porém naquele momento, não houve fuga. Olhamo-nos. E o que me pareceu mais correto comigo mesma foi voltar meus olhos para o amigo que me acompanhava, perguntar-lhe qualquer coisa sobre qualquer assunto, sentar e aliviar a pressão sobre os pés calçados em salto por tanto tempo. Esquecê-lo.
Só que temos uma danada de uma visão periférica que pode ser muito traiçoeira. E a partir dela vi as mãos do meu Jim Stark percorrerem as costas de um vestido branco. Não poderia descrever a garota que o vestia. Meu foco foi no movimento dele, que a tocava de cima para baixo. Pensei que ele era óbvio demais em suas investidas. Senti vontade de fumar um cigarro.
Creio que foi este o momento no qual consegui walk away. Apaguei seu número de minha lista de contatos no celular. Suas mensagens também. Não tenho maneiras de encontrá-lo por querer próprio. A sincronicidade funcionou de forma a fazer meu motorista da noite declarar-se pronto para partir. Segui-o em direção à saída, e por alguma razão ele escolheu o caminho menos óbvio, pelo qual passaríamos entre uma grade e... bem, ele. Ele.
A cada passo me perguntava qual seria a atitude de maior elevação espiritual, qual seria mais condizente com quem almejo ser, o que fazer desse encontro. E na hora da decisão final, respeitei-me apenas. Se ainda existem coisas que desejaria dizer a ele, certamente não seria às cinco horas da manhã, numa casa noturna. E se não for verdade, não há porque sair nada dos meus lábios. Não queria perguntá-lo se ele estava bem, muito menos sorrir, dizer que eu também. Não. Só... não.
Passei por ele. Fui embora sem olhar para trás. Disse ao meu amigo que ele havia presenciado a remoção de um grande peso de minhas costas. Senti minhas asas estendendo-se outra vez. Estou livre. Já não há a âncora que ele me havia posto em um porto de areia movediça. Não vou mais ser sugada para esse fundo no qual não há fim nem salvação. Eu walked away para seguir por uma rota distinta. E não aceito grilhões que me prendam a ele de forma alguma. Creio que o que tivemos foi suficiente.

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