quinta-feira, 2 de maio de 2013

planalto das estrelas nascentes.

Levantei da rede que vai de um lado a outro do quarto e caminhei até a sala, onde o celular sinalizava alguma atividade. Sorri durante esta pequena travessia pensando que a falta de paredes faz com que qualquer classificação em cômodos do espaço físico do Ninho seja realmente jocosa. E sorri um pouco mais quando vi que o que causara inquietação ao meu telefone fora uma mensagem de quem se dispôs a construir junto comigo este ambiente. Neste momento percebi que o sol se punha e já passava da hora de sair de dentro de mim.
Este desastroso senso de direção me fez tomar o ônibus errado, acontecimento que não me choca, mesmo tendo vivido duas décadas nesta cidade e supostamente conhecendo os itinerários dos coletivos que passam pelo centro. De qualquer forma, fui parar na Torre de TV, onde uma orquestra me lembrou de tempos outros nos quais era eu em um palco, esperando pela sinalização da próxima pausa e cuidando para não desafinar no solo de flautas. Sentei-me à beira da fonte que  testemunhou muitas discussões acerca de inquietações e amor com a musa de grande parte de meus escritos ao longo do último decênio. Pensei na quantidade de matéria-prima literária havia sido extraída de momentos compartilhados ali.
Depois de algum tempo, senti um chamado por parte de uma canção muito estimada. Aproximei-me do palco, para então deparar-me com a presença de uma antiga companheira de jornada. E logo que nos despedimos e rumei para destino outro, reparei que passava por uma estrada onde oito anos antes, numa tarde de clandestina peregrinação, assistimos ao fracasso de um pivete na tentativa de surrupiar os pertences de uma senhora que não hesitou em ridicularizá-lo: "Se toca, muleque, 'cê ACHA que com este tamainzin consegue levar minha bolsa?"
Ao cruzar a pista topei-me com o jardim que seis anos atrás fora pisoteado por duas garotas que recém haviam descoberto que a vida poderia ser exatamente como desejavam. Tal realização causou em ambas um desejo louco de correr noite adentro, mundo afora.
Um afluxo de nostalgia me tomou o corpo inteiro. São tantos os anos de perder-me por estas ruas que as histórias começam a se atravessar. Mais do que recordações claras das situações, guardo a lembrança das sensações. Olhei para cima e lá estavam todas as estrelas que passam a maior parte do ano ornando o firmamento sobre este cerrado seco. Neste instante começou a tocar In the Valley of Dying Stars e eu pensei em Brasília como um planalto onde nascem grandes, enormes massas de energia; seres humanos com luz própria, de magnitude inefável.
Por mando do destino e para sua sorte, pouco a pouco elas tomam seus caminhos. Descobriram-se meteoros e escolheram cair para lados outros. Enquanto a humanidade se preocupa com o aquecimento global, comecei a sentir sintomas de resfriamento da Terra, resultado do afastamento das fontes naturais de calor existente em seus abraços. No entanto, ao olhar para este céu sem nuvens, tive absoluta certeza de que continuarão a alumiar os passos que dou, errante caminhante que sou. E sempre que procurarem direitinho, me encontrarão em algum canto; algumas vezes com fulgor mais intenso, noutras, descansando desse viver tão desesperado.

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