terça-feira, 17 de janeiro de 2012

verde céu, prata lua.

Apaixonei-me pela crônica quando escrever sobre o cotidiano era escrever sobre um sonho. A vida era todo um espetáculo utópico; era subir colinas para ver nascer a maior lua em treze anos, cantar parabéns à meia noite no anfiteatro para um libanês aniversariante ou me perder na capital do mais rico (economicamente e só) país centroamericano.

Certa vez passamos toda uma tarde assistindo aos filmes mais piegas que se pode imaginar. Éramos eu, uma espanhola, uma norueguesa e uma israelense. Uma frase de Nothing Hill nos encantou muito profundamente. Foi a definição dada pelo mocinho ao seu encontro com a mocinha: "Surreal, but nice."

Surreal, mas agradável.

Deste momento em diante, decidimos que não faria sentido algum fazer qualquer intento de descrever nossa experiência nos últimos anos. Sempre que perguntadas, daríamos como resposta "surreal, but nice." E ter como rotina o surreal me fez infinitamente feliz pelo tempo que durou.

Então acabou-se o que era doce e estava eu de volta à cidade de onde havia fugido dois anos antes. Estava eu de volta aos mesmos cafés e clubes e camas. De volta à bucólica capital do país que orgulhosamente representei enquanto vivia como estrangeira.

Senti minha luz desvanecer pouco a pouco e logo me tornei cinza. Cor de cinza e cinza ao vento. Cinza, resto do que queimou. Cinza nada. Eu nada. Eu cinza. Eu sem tesão pelo cotidiano banal de garota planopilotense, sem inspiração.

Até que um dia o sol durou até depois das oito e meia da noite e a lua nasceu enorme no céu dessa Brasília. Foi este o dia no qual me dei conta da beleza que andava passando despercebida diante dos meus olhos. A beleza que há no fim de cada dia vivido.

Imediatamente voltei a me relacionar amorosamente com o agora.

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