sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

memórias de meu chamo.

Nos conhecíamos de vista, eu e ele, porque meu quarto era ao lado da porta da residência à qual ele visitava com frequencia. Nos conhecíamos de vista e não tínhamos a mínima pretensão de tornarmo-nos amigos, a garota que andava de sutiã pela casa e o garoto que só usava listras. Nos conhecíamos de vista e não havia nada que nos fizesse pensar, a guria que tinha o boteco mais próximo como segunda casa e o guri que não saía na sexta à noite, que teríamos vida em comum, coisas a compartilhar. Nos víamos, nos saudávamos à distância e seguíamos nossos caminhos.
Foi do meu tédio que surgiu nossa amizade. Fui fazer um chá na cozinha e lá estava ele, em seu computador, na mesa da cozinha. Coloquei a água no fogo e lhe toquei os ombros como se fôssemos íntimos. Senti-o eriçar-se, morrendo de vergonha. Segurei o riso e lhe falei em espanhol, lhe perguntei disso e daquilo, e quando a água atingiu seu ponto de ebulição já havia carinho entre nós suficiente para gerar sorrisos em soldados em campo de batalha. Foi bem assim que aconteceu.
Posso dizer que nosso amor cresceu a passos lentos, passos estes que dávamos por corredores abertos em noites frescas de outono. Passávamos horas e mais horas descobrindo com sede sôfrega um ao outro. Nunca descobri o motivo, mas a verdade é que comecei a precisar de uma dose noturna dos encantos dele para sobreviver ao dia seguinte, e provavelmente o mesmo aconteceu a ele. E na cadência de nossos passos, compusemos nosso tango.
(...)

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