sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

onde está o sol?

Não se pode tomar chá com muito açúcar nem comer guacamole com muito sal. Não se pode amar até a morte nem viver fugindo do amor. Não se pode passar tanto dias sem ver a luz do sol ao despertar-se pela manhã.
Já não podia mais olhar pela janela e ver o branco do prédio ao lado perder-se no branco das nuvens que tomaram o céu há semanas. Se ao menos o dia estivesse acinzentado, se houvesse barulho de chuva e cheiro de terra molhada... ah, seria gostoso viver assim. Só que o dia estava branco. Absolutamente branco. O barulho de uma construção por perto me entrava pelos ouvidos sem cessar, o clima estava abafado, sufocante; o dia branco!
Tranquei as portas, fechei as janelas, cerrei as cortinas. Abriguei-me no refúgio de meu sono decidida a sair dali apenas quando o dia não estivesse tão odioso. E por ali fiquei horas, ora lendo ora escrevendo poesia indignada, cartas de amores distantes, crônicas do que já se foi. Fiquei ali, com meu coração apertado, pensando "que vida curta!" depois de receber uma trágica notícia.
Foi de um instante a outro que as cores do quarto mudaram. Um amarelo claro invadiu tudo ao entrar por um pedacinho de janela descoberta pela cortina. Foi tão rápido e ainda assim vi tudo em câmera lenta: os desenhos ao lado de minha cama, a parede ao lado da cama vazia, o armário embutido... de repente todos eles tinha nuances de amarelo em si. Senti tamanha euforia que só pensei em agarrar as cortinas, empurrá-las para fora do meu caminho de luz.
Me faltou tempo para tal. O raio de alegria não passava de um buraquinho no meio daquela multidão de nuvens que insistem em continuar colocando-se entre o sol e minha pessoa. A alva iluminação escassa estava de volta e meu mau-humor também.

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