quinta-feira, 8 de março de 2012

noite qualquer

Eu segurava a terceira taça da noite e fumava o segundo cigarro do maço. Era Neruda que estava à minha frente, seu Poema 20 imprimido em letras negras sobre uma parede branca me falavam do amor que acabara. Eu dava goles épicos no vinho tinto que serviam e entre um trago e outro pensava em sair daquele lugar, caminhar vagarosamente por ruas vazias, silenciosas (já sem nenhuma taça de vinho, fumando o terceiro, talvez quarto cigarro), parar em frente ao bloco dele e gritar seu nome. É claro que não estragaria toda a poesia de um momento como esse interfonando. Interfonar. Essa palavra aniquila qualquer dose de magia presente em qualquer conto. Então eu gritaria seu nome na rua de sua casa, sem ao menos ter o que dizer. Pura e simples vontade de trocar uma ideiazinha ou outra com alguém que nunca me desafiou intelectualmente, com alguém que se fazia responsável por deixar minha vida - e eu mesma - mais leve. Mas não foi bem isso o que aconteceu. Esperei e esperei na parada por um ônibus que me deixasse minimamente perto de casa e caminhei, já sem nenhum cigarro e já recuperada do excesso de vinho. Caminhei por ruas agitadas, abarrotadas de carros indo sabe-se lá para onde, levando sabe-se lá quem dentro. Só o que percebia em comum entre eles eram os olhares que lançavam do conforto de seus bancos de couro. Perguntavam-se, nem que por um segundo, o destino daquela jovem perdida de cabelos cor de fogo.

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