sábado, 22 de setembro de 2012

falta de sono e vontade de dormir

Uns dias (mais que outros) acordo meio desnorteada, com vontade de não ser. Noutros, a falta de norte acontece em algum momento aleatório e me vejo atravessando pistas sem olhar se vem carro, saltando do ônibus três paradas depois da que deveria. Hoje aconteceu na escadaria do Hotel Nacional. E não saberia bem dizer como cheguei ao momento de parar naqueles degraus, encantada pela beleza da combinação de cores da luz refletida numa árvore com o céu já quase noturno.
Fiquei e fiquei e fiquei. Fumei um cigarro. Fiquei mais um pouco. Só descobri que havia alguma coisa errada quando me dei conta de que realmente não sabia para onde deveria ir.
Pensei que há um par de amores no Velho Continente, outro par en el Norte, unzinho na América Central. Pensei que há um curso de História da Arte com mais tradição em Porto Alegre, que minha universidade dos sonhos é em New York e que seria delicioso andar de bicicleta despreocupadamente pelas ruas de Amsterdam. Pensei que morar com os pais aos vinte e poucos pode até ser norma aqui pela América Latina, mas minha multiculturalidade me faz ver essa minha condição com maus olhos. E depois dessas reflexões, me veio o mais imediato dos questionamentos: e agora, agora, AGORA... para onde vou?
Sabendo que raras pessoas entendem minha poética de vida, pedi socorro a um ser humano cuja poesia geralmente casa com a minha - por mais que tentemos arduamente convencer-nos que somos opostos.

"simplesmente não sei para onde ir
literalmente
parei no meio da rua
me fala para onde ir"

Sem que ela soubesse sequer em que setor, bairro, rua eu estava, sua resposta me levou magicamente a... uma agência de viagens. E ali levei mais uns bons minutos. Pareceu-me uma brincadeira deveras deselegante do universo para com alguém que só pensa em ir embora of this two star town. Era algo como "está aí, bem na sua fuça, a cura de todos os males que lhe afligem... o único problema é que já passou do horário comercial, além de que amanhã é sábado e eles não abrem".
Lembrei de um alemão que passou pela minha vida. Estávamos na passagem entre Conjunto Nacional e Conic e olhávamos a Torre. Ele disse que, entre outras peculiaridades, o que tornava Brasília interessante era o fato de que à primeira vista tudo parecia muito perto, mas quando você tem que chegar a algum lugar específico, é quase inalcançável. Ando começando a achar que essa característica de minha cidade contagiou meus desejos: eles estão todos ali, logo onde posso vê-los, mas se fazer cada dia mais distantes.
Voltei para casa umas três horas depois do planejado. Ao sair do ônibus, senti escassas gotas. Só subi depois que a chuva se fez real e retratou-se pelos quase quatro meses de ausência. E pouco importa se eram ácidas as gotas caídas do céu de cores mais belas do planeta Terra: era a limpeza que precisava nesse momento.
O desnorteio seguiu comigo, e me dá um medo tão grande quando deito na cama e não consigo me desligar do mundo "real". Ah, é que o mundo dos sonhos é meu refúgio maior, e é essa a salvação que necessito nessas horas de perdição.
Por sorte, preencher linhas e linhas e linhas consegue acalmar-me, acalentar-me... e logo logo o sono vem.

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