Aconteceu certa noite de nos atrasarmos para a mesma peça. Desde então, não precisei mais de acaso algum para encontrá-lo. Dessa noite em diante, foram ocasos e alvoradas, vinhos e cigarrillos, angústias e alegrias compartilhadas, duas vidas entrelaçando-se organicamente, entrando em eixos que rumam a caminhos similares sem esforço algum.
Encontrei abrigo imediato em seu abraço e no sofá de sua sala. Nos Nerudas pendurados pela parede. No altar da varanda. Já perdi a conta dos teóricos ocidentais e dos pensadores orientais que fomentaram reflexões conjuntas acerca da maneira como desejamos viver a vida. Tampouco teria recibos para os poetas que nos encantaram com seus versos entre nuvens de fumaça.
Numa dessas noites, velas iluminando o quarto com luz alaranjada, An Awesome Wave tocando pela segunda vez seguida, chuva do lado de fora e ele me pedindo cafuné, me dei conta:
- Você acabou com minha possibilidade de ter um relacionamento afetivo com qualquer pessoa que não seja assim, sei lá... você!
Pode ser que nosso estado de lua de mel esteja ludibriando meus sentidos. Encontro-me completamente incapaz de encontrar defeito algum neste ser humano. Sinto cada dia mais vontade de participar de momentos ao seu lado, sejam estes felizes ou desgostosos. Este ser de tranquilidade tão contagiante tornou-se parte de mim. Parte tão integrante (e intrigante) que completa de maneira mais do que bela os diálogos do filme que é minha vida:
- Quero essa tranquilidade... alguém que me dê vontade de passar as noites de segunda-feira escutando boa música na cama.
- Ah, faz isso comigo.
(E me puxou mais para perto de si, fazendo de mim a cucharita de fora de nossa conchinha)
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