Mostrando postagens com marcador universo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador universo. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 29 de março de 2013

"como vocês vão viver um sem o outro?"

Tenho escutado esta pergunta com muita frequência nos últimos tempos e a verdade é que não há como respondê-la com precisão. Não sei, não sei mesmo. Estou tão acostumada a tê-lo comigo, meu amor, na alegria e na tristeza... Já nos dissemos adeus outras vezes, mas antes a ausência parecia passageira. E eu não sei como será uma vida sem ti. Saberia dizer, no entanto, como foram os instantes seguintes ao nosso adeus mais recente:
houve um delíquio resultante da mescla entre envenenamento alcoólico intencional, sensação claustrofóbica de estar em um porão esfumaçado e tua decisão de ir embora. Ainda tentei um ou dois passos na pista de dança até prudentemente me jogar no sofá, onde chorei um pranto cujos decibéis calaram as caixas de som. Não me lembro de escutar música alguma durante estes momentos até que alguém sentou ao meu lado e passou o braço em volta dos meus ombros:
- O que aconteceu?
Contei àquela estranha que em algumas horas meu melhor amigo de década(s) iria embora de vez, deixando-me sozinha nesta cidade odiosa. Narrei algumas de nossas histórias para ter certeza de que ela entenderia as origens do pranto. Os tantos anos nos quais nossas biografias se entrelaçaram passearam por minha cabeça na velocidade da luz, aumentando ainda mais a vertigem.
- Vou lavar o rosto, beber uma água. Obrigada.
E segui tropegamente até o banheiro, onde o espelho me mostrou uma eu de aparência enferma, sem cor. O frio da água me acordou e percebi o quão ridiculamente cinematográfica fora nossa despedida. Sorri e senti muitas ganas de rir contigo. Subi correndo as escadas e lhe busquei naquele mar de gente... e tu havia ido embora, amor!
Fiquei perceptivelmente hecha mierda, forçando-me até a mentir quando passou um conhecido saudando-me com o usual:
- Oi, tudo bem?
- Tudo sim, e contigo?
Desci vagarosamente os degraus, carregando o insustentável peso da tristeza sobre minhas costas. Pensava em maneiras de não ser afetada negativamente por coisas sobre as quais não tenho poder. Refletia sobre como ficar bem. E a resposta do universo foi imediata.
Ainda no último degrau da escadaria, a multidão se abriu para que eu encontrasse um abraço que me levou de volta ao meu habitual lugar na pista. Foi ali que, melodia após melodia, recuperei as forças e a vontade de ser feliz. Quando subi para respirar encontrei um pouco mais de acolhimento que veio em forma de duas horas de partilhar sonhos e desejos com alguém no mínimo inesperado, além de um par de abraços de outrem.
No caminho de volta para casa, me dei conta do cuidado que havia recebido depois de nossa separação. Conhecidos e desconhecidos foram titereados pelo destino (será?) para que eu ficasse bem. E deu certo.
Não sei como viverei sem ti, amor meu. Porém alguma coisa me diz que esta nova fase pode ser interessante para nós; me dá certeza de que somos cuidados por uma divindade muito iluminada. E se há algo que nunca nos faltará nesta vida, mon ami... é muito, muito amor.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O amor da minha vida.

Passei a vista sobre os escritos reunidos neste blog. Foram trinta e quatro musas e musos que inspiraram os textos produzidos em um ano e meio de pesquisa acerca do amor. Nesse período, li de Platão a Roberto Freire, passando por Gertrude Stein, mas sem esquecer João Ubaldo Ribeiro. Também nesse tempo, fui protagonista de umas tantas histórias de amor e passei por alguns desencantos. E reencantos. É que esse tal de amor é fluido, sabe como é...
A expressão "amor do meu agora" costumava soar genial. Parecia-me condizente com a maneira como desejo viver meus amores: contem em si a efemeridade do agora e a eternidade do amor, absolutamente precisa!
Acontece, queridões e queridonas, que andei mudando minha percepção sobre essa afirmação. Começo a ter a sensação que a estes tais amores do agora lhes falta uma boa dose de honestidade. E não consigo conceber associação entre afetividade e falta de verdade.
Dei-me conta nestes últimos dias que o que almejo viver de fato são amores de vida inteira. Amores com quem cresci e posso seguir crescendo junto. Amores que já chegaram à minha vida um pouquinho mais tarde e por razões que desconheço sinto que sempre estiveram ao meu lado. Amores que desaparecem de vez em quando e voltam de maneira orgânica. Amores que me raptam de casa à uma da manhã para passar tempo sob um céu lindo, estrelado. Amores que me acompanham em belíssimas alvoradas. Amores que vivem longe e não me esquecem. Amores com quem haja aprendizado, confluência de vivências, aconchego.
As características supracitadas não foram idealizadas. Cada adjetivo, cada momento descrito é tão real quanto poderia ser*. Não peço ao universo nada mais do que algo não só possível como existente. Cotidiano. Os amores da minha vida estão aqui. Alguns ao meu lado no agora, outros esperando a deixa do universo para colocar-nos outra vez no caminho um do outro. Nem me preocupo. Nossos encontros acontecen na hora certa.
Esta reflexão teve como trilha sonora uma canção que conheci em outra vida, quando meu quarto era iluminado por velas e luzes de natal. O ar cheirava a incenso. Era um mundo a parte, onde descobri um par de significados distintos para o sentir demasiado que tenho dentro da caixa torácica. Foi numa noite de lua cheia que tal canção tocou. Lembro disso porque imediatamente coloquei-a no iPod e me pus a caminhar sob o belo manto desalumiado da noite centro-americana. Sozinha. Olhei para cima e desejei que aquela mesma lua estivesse iluminando os caminhos de todas as pessoas que cabiam dentro de mim. De minhas memórias mais queridas e por mais ridículo que possa soar, de meu coração.
Que possamos entender o que nos desassossega. Que colhamos o que plantamos. Que encontremos dentro de nós toda a força necessária para desfrutar cada um dos passos de nossas jornadas.
Happy Valentine's, amores de minha vida, do meu passado, do meu presente, do meu futuro.

* "Tão real quanto poderia ser" foi uma tradução direta de "as real as it can be" e talvez faça um pouco mais de sentido em inglês. Não consegui achar, no entanto, uma frase que remetesse a este exato sentir. Deixo, então, esse pequeno deslize imortalizado.

** De acordo com Roberto Freire em Ame e Dê Vexame!, quando os franceses querem enfatizar o sentimento de amor por alguém utilizam-se da frase je t'aime d'amour - eu te amo de amor.

sábado, 1 de dezembro de 2012

"on a drive from solution to surface"

Recebi uma carta numa terça-feira à noite contendo um pequeno abalo sísmico. Desde então encontro-me em dois lugares ao mesmo tempo - situação que vivi durante alguns bons meses no passado e ainda assim me deixa bastante desconfortável. Este estado de não-ser-não-estar-não-sentir me levou a negligenciar umas muitas coisas bastante relevantes. Devo dizer que me deixou bastante preocupada não ser capaz de me importar... senti que veria tudo ir água abaixo e não conseguiria levantar uma palha para impedir.

Até que nessa madrugada de segunda-feira algo aconteceu:

abri uma janela do Word. Escrevi uma palavra, uma linha, um parágrafo, dois. Carta feita. Enviada. Dedos cruzados e um álbum de nome Europe tocando sem parar nos meus fones cor-de-rosa. Muita, muita paz.

E me veio a cabeça uma constatação que tive numa dessas noites de tomar chá aromático na madrugada brasiliense, falando de amor e inquietação. Eu disse à minha gueixa que as coisas advêm do desejo e ela imediatamente respondeu que não, além de mostrar-me que sou a última pessoa do mundo que deveria crer nisso.

A verdade é que no decorrer de minha vida encontrei muito mais lugar para acasos incríveis do que para realização de sonhos. Por essa razão, fico tranquila com os caminhos pelos quais sou forçada a seguir. Desassossego, reclamo, proclamo as maiores injúrias, eu sei. Porém bem dentro de mim sei que vai me levar exatamente onde devo ir.

Então é isso, destino... universo... é isso. Tá aí. Coloquei mais uma vez na palma de tuas mãos.
Ajude-me a encontrar outra vez os caminhos que me levam para o mar que me chama.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

do dia no qual minha aula foi cancelada por motivos obscuros.

Um dia acordei sem vontade de ter aula de direção. É que dirigir nunca esteve no meu hall de Coisas Que Me Encantariam Aprender. Na verdade, esteve mais no de Coisas Que Nunca Faria Caso Tivesse Plata Para Tal. Porém, não tenho plata para tal e aos 20 anos fui obrigada a tomar aulas de direção.
No dia supracitado quis com muito ardor não ter aula. Tentei não desejar o mal à instrutora. Tentei e tentei e não consegui, foi mais forte que eu. E a pobre da instrutora, ai ai ai... teve uma indigestão das brabas, daquelas que te fazem desejar a morte à um sofrimento intenso assim. Isso foi ela que me contou na aula seguinte.
Quando ela entrou de férias, me coube ter aulas com um negão carioca que me fazia escutar os sambas do Carnaval 2012 da Sapucaí e tinha em seu retrovisor patuás de tudo que era religião, brasileiras e estrangeiras.
- São presentes de ex-alunos. Quem sou eu pra não acreditar na força de cada um destes elementos? Deixo tudo aí.
E aí veio novamente aquela vontade de não ter aula; chovia e dirigir na chuva, sabe como é, né? Né? Né. Não queria, não queria, não queria. Sentei no pilotis do bloco, agradecendo aos céus por cada carro que não era um Pálio, não era vermelho e não tinha AUTO-ESCOLA escrito em negro sobre um fundo amarelo. Ainda lutava contra meu impulso de desejar o mal ao próximo, mas às vezes esse moléstia se faz demasiadamente intensa em mim.
Vinte minutos de atraso e subi triunfante de volta à casa. Já com o telefone na mão, pronta para ligar para a tal auto-escola e remarcar minha aula, ouvi a buzina do temeroso carro. Pálio, vermelho, AUTO-ESCOLA.
Peguei minha bolsa, meu casaco, pus de volta os sapatos de dirigir. Coloquei a chave na porta e girei, desolada. E ela parou, ficou presa. Presa a chave na porta, presa eu ao apartamento. Girei para todas as direções possíveis e nada dela se mexer. Nessa hora o senhor já havia interfonado, avisado de sua presença à minha espera. À minha espera, à minha espera... estava eu à tua espera durante os últimos vinte minutos!
Toda a situação me pareceu um tanto quanto engraçada. Ele falando no celular - como sempre - debaixo do meu bloco. Eu não conseguindo pensar em nenhuma outra solução que não chamar o Super-Homem para me resgatar - que seja subentendido que o tal Super-Homem é meu pai. A chuva caindo cada vez mais forte.
Pensei que o universo é engraçado, que ele encontra maneiras muito únicas de nos ensinar lições. Pensei que a energia do querer é muito mais forte do que nos apetece acreditar. Pensei que só é realmente forte quem sabe trabalhar essa energia a seu favor - às vezes carregando consigo quantos patuás couberem em sua bolsa ou retrovisor.