Tenho escutado esta pergunta com muita frequência nos últimos tempos e a verdade é que não há como respondê-la com precisão. Não sei, não sei mesmo. Estou tão acostumada a tê-lo comigo, meu amor, na alegria e na tristeza... Já nos dissemos adeus outras vezes, mas antes a ausência parecia passageira. E eu não sei como será uma vida sem ti. Saberia dizer, no entanto, como foram os instantes seguintes ao nosso adeus mais recente:
houve um delíquio resultante da mescla entre envenenamento alcoólico intencional, sensação claustrofóbica de estar em um porão esfumaçado e tua decisão de ir embora. Ainda tentei um ou dois passos na pista de dança até prudentemente me jogar no sofá, onde chorei um pranto cujos decibéis calaram as caixas de som. Não me lembro de escutar música alguma durante estes momentos até que alguém sentou ao meu lado e passou o braço em volta dos meus ombros:
- O que aconteceu?
Contei àquela estranha que em algumas horas meu melhor amigo de década(s) iria embora de vez, deixando-me sozinha nesta cidade odiosa. Narrei algumas de nossas histórias para ter certeza de que ela entenderia as origens do pranto. Os tantos anos nos quais nossas biografias se entrelaçaram passearam por minha cabeça na velocidade da luz, aumentando ainda mais a vertigem.
- Vou lavar o rosto, beber uma água. Obrigada.
E segui tropegamente até o banheiro, onde o espelho me mostrou uma eu de aparência enferma, sem cor. O frio da água me acordou e percebi o quão ridiculamente cinematográfica fora nossa despedida. Sorri e senti muitas ganas de rir contigo. Subi correndo as escadas e lhe busquei naquele mar de gente... e tu havia ido embora, amor!
Fiquei perceptivelmente hecha mierda, forçando-me até a mentir quando passou um conhecido saudando-me com o usual:
- Oi, tudo bem?
- Tudo sim, e contigo?
Desci vagarosamente os degraus, carregando o insustentável peso da tristeza sobre minhas costas. Pensava em maneiras de não ser afetada negativamente por coisas sobre as quais não tenho poder. Refletia sobre como ficar bem. E a resposta do universo foi imediata.
Ainda no último degrau da escadaria, a multidão se abriu para que eu encontrasse um abraço que me levou de volta ao meu habitual lugar na pista. Foi ali que, melodia após melodia, recuperei as forças e a vontade de ser feliz. Quando subi para respirar encontrei um pouco mais de acolhimento que veio em forma de duas horas de partilhar sonhos e desejos com alguém no mínimo inesperado, além de um par de abraços de outrem.
No caminho de volta para casa, me dei conta do cuidado que havia recebido depois de nossa separação. Conhecidos e desconhecidos foram titereados pelo destino (será?) para que eu ficasse bem. E deu certo.
Não sei como viverei sem ti, amor meu. Porém alguma coisa me diz que esta nova fase pode ser interessante para nós; me dá certeza de que somos cuidados por uma divindade muito iluminada. E se há algo que nunca nos faltará nesta vida, mon ami... é muito, muito amor.
houve um delíquio resultante da mescla entre envenenamento alcoólico intencional, sensação claustrofóbica de estar em um porão esfumaçado e tua decisão de ir embora. Ainda tentei um ou dois passos na pista de dança até prudentemente me jogar no sofá, onde chorei um pranto cujos decibéis calaram as caixas de som. Não me lembro de escutar música alguma durante estes momentos até que alguém sentou ao meu lado e passou o braço em volta dos meus ombros:
- O que aconteceu?
Contei àquela estranha que em algumas horas meu melhor amigo de década(s) iria embora de vez, deixando-me sozinha nesta cidade odiosa. Narrei algumas de nossas histórias para ter certeza de que ela entenderia as origens do pranto. Os tantos anos nos quais nossas biografias se entrelaçaram passearam por minha cabeça na velocidade da luz, aumentando ainda mais a vertigem.
- Vou lavar o rosto, beber uma água. Obrigada.
E segui tropegamente até o banheiro, onde o espelho me mostrou uma eu de aparência enferma, sem cor. O frio da água me acordou e percebi o quão ridiculamente cinematográfica fora nossa despedida. Sorri e senti muitas ganas de rir contigo. Subi correndo as escadas e lhe busquei naquele mar de gente... e tu havia ido embora, amor!
Fiquei perceptivelmente hecha mierda, forçando-me até a mentir quando passou um conhecido saudando-me com o usual:
- Oi, tudo bem?
- Tudo sim, e contigo?
Desci vagarosamente os degraus, carregando o insustentável peso da tristeza sobre minhas costas. Pensava em maneiras de não ser afetada negativamente por coisas sobre as quais não tenho poder. Refletia sobre como ficar bem. E a resposta do universo foi imediata.
Ainda no último degrau da escadaria, a multidão se abriu para que eu encontrasse um abraço que me levou de volta ao meu habitual lugar na pista. Foi ali que, melodia após melodia, recuperei as forças e a vontade de ser feliz. Quando subi para respirar encontrei um pouco mais de acolhimento que veio em forma de duas horas de partilhar sonhos e desejos com alguém no mínimo inesperado, além de um par de abraços de outrem.
No caminho de volta para casa, me dei conta do cuidado que havia recebido depois de nossa separação. Conhecidos e desconhecidos foram titereados pelo destino (será?) para que eu ficasse bem. E deu certo.
Não sei como viverei sem ti, amor meu. Porém alguma coisa me diz que esta nova fase pode ser interessante para nós; me dá certeza de que somos cuidados por uma divindade muito iluminada. E se há algo que nunca nos faltará nesta vida, mon ami... é muito, muito amor.