Às vezes me pergunto como seria sentar no parapeito da janela de um prédio bem alto, desses que não se pode construir em Brasília. Penso como seria a sensação do vento batendo com doce violência nas minhas bochechas, desgrenhando meu cabelo; eu riria da peraltice desse vento criança. Imagino como seria ter os pés suspensos sobre as cabeças e os pensamentos de todo ser pensante. Estar no topo do mundo e ter certeza de que nem o mais estrondoso dos meus gritos seria ouvido.
Aí a próxima imagem que me vem à mente é do meu corpo deslizando para baixo, rápido e devagar - paradoxo óbvio já que a gravidade me faria cair depressa mas a iminência da morte tornaria tempo uma medida inútil. Meu vestido de flores deixaria que o mundo visse o que todos tentam esconder. Os espectadores recatados de minha queda pensariam "que garota mais sem vergonha!", esquecendo-se até que o impacto daquele tombo importa muito mais do que suas ideiazinhas pudicas.
Por fim, vejo meu corpo no chão. Sem sangue, só flores. Vejo uns curiosos formarem um círculo à minha volta, todos surpresos pela falta de sangue, excesso de flores. Vejo de camarote a um mundo ao qual já não pertenço mais. A nostalgia apagaria todo o horror do que eu havia deixado para trás por vontade própria. Me depararia finalmente com o mundo perfeito. Sem guerras mundiais, nucleares, civis. Uma abundancia inimaginável de flora para todos os lados. Assim seria: sem sangue, só flores.
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