Foi meu primeiro pensamento da manhã.
Pensei nessas árvores tão brasilienses. Mais que isso até... tão candangas.
Já mais tarde, num zebrinha, enquanto esperávamos que o sinal da 15 norte se abrisse para os veículos, me peguei encarando uma dessas árvores magrelas da W3. Lá estava ela, nua e retorcida. Do seu galho mais alto, uma única flor amarela orgulhosamente triunfava sobre a soberana aridez do cerrado em mês de agosto.
Lhe olhei tempo suficiente para começar a ver meu reflexo no vidro e me dei conta de olhava a mim mesma o tempo todo. O pensamento agora era:
"Sou uma árvore do cerrado"
Pensei na minha beleza nada óbvia, constantemente classificada como exótica. Pensei em todos os retorcimentos da minha personalidade, nos vícios e nas (talvez nem tão) ligeiras falhas de caráter. Pensei no mau humor.
"Sou um ipê do cerrado, que dá flores quando quer. Que dá flores quando tudo em volta é poeira, é secura, é sangue saindo do nariz. Que mostra suas belas cores só quando convém contrastar com o tédio, com a rotina. Sou um ipê do cerrado. Talvez seja hora de florescer. De colorir minha vida."
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